quarta-feira, 5 de abril de 2017

Cadeira de leitura

Passei na casa dele. Parei o carro em frente, bati palma e nada. Palma de novo e lá de dentro a esposa grita: Tá não, saiu. Oi Renato – foi falando já na varanda – ele foi ver uma cadeira de leitura pra ele. Eu disse que passaria de volta lá pras duas da tarde. Eram umas nove e meia da manha. Quatro horas e meia dá pra se comprar uma ruma de cadeira.
Me atrasei e passei já eram quase quatro horas. Nada dele ter chegado. Resolvi ligar pra ele então. Vai que tinha tido algum problema com o carro, com o transporte da cadeira. Poderia ser útil pra resolver alguma coisa. Falou bem aperreado comigo no celular. Só deu pra entender que estava muito ocupado escolhendo a tal cadeira de leitura. Não iria chegar em casa nem tão cedo. Pediu pra que eu dissesse à esposa que não esperasse ele pro jantar. Marcamos no outro dia logo cedo. Sete da matina em ponto, porque quinze pras oito ele tinha que sair pra academia, que ele faz diária e sagradamente às oito e trinta e cinco. Depois iria continuar a sua busca ao encontro da cadeira de leitura perfeita. Não teria mais tempo durante todo o dia.
Cheguei cinco pras sete. Ele abriu a porta pontualmente às sete. Resolvi com eles uns detalhes sobre a diagramação do meu livro e perguntei que diabos de cadeira era essa tão difícil de encontrar. Ele me contou:
“Rapaz, faz tempo que não me dedicava à literatura normal. Só tinha tempo pra ler livros técnicos. Coisas do meu trabalho ou publicações correlatas. Os romances, livros de contos ou crônicas estavam ficando cada vez mais esquecidos. Nunca tinha tempo ou disposição para ler. Passei a levá-los para as minhas viagens para o interior onde mora a minha sogra. Casinha sossegada, distante da cidade, aquele silêncio o dia todo. Acordo cedo, antes do burburinho da casa, me sento em uma cadeira no alpendre e é uma beleza. Leio o livro quase todo no fim de semana.
Tava pesquisando o motivo e descobri: A cadeira. Para ler você precisa estar confortavelmente sentado, com as pernas na posição certa, os braços devidamente apoiados, a coluna bem estabilizada, encosto pro pescoço e uma ruma de detalhes de suma importância. Só assim a pessoa consegue ler bem. A leitura vira puro prazer.”
Do jeito que ele tava falando parecia que o livro era apenas um coadjuvante. Um bom livro em uma cadeira ruim não é nada. Mas não era isso. Ele apenas conjugava o verbo ler com o corpo todo e com direito ao entorno. Tem razão, por sinal. Se não estivermos confortáveis não conseguiremos nos concentrar cem por cento na leitura.
Me mostrou uma porrada de catálogos de cadeiras e apontou duas como as melhores. Ia tirar a dúvida à tarde e jurou de pés juntos que só chegaria em casa com a cadeira comprada.
Mas não conseguiu cumprir a jura. Tinha chegado uns modelos novos e tinha embananado a leitura toda, digo, a decisão toda. Seria preciso mais uns dois dias pra escolher o modelo, depois ver com a esposa a cor pra combinar com a sala e só depois conseguiria se decidir. Saiu da última loja já umas dez da noite, enxotado pelo gerente que já tinha colocado vassoura de cabeça pra baixo atras de cada porta da loja. Saiu com mais dúvidas do que chegou, contou a esposa à noite.
Pra você não pensar que ele não faz nada, ele tava de férias.
Quarta-feira de manhã, logo depois da academia foi continuar a saga da compra da cadeira. Pra resumir, entre indas e vindas em casa para dormir, ele experimentou 37 cadeiras até sábado de meio dia. Experimentar significava ler, pelo menos, dois capítulos de um romance por cadeira, ou o correspondente a umas 30 páginas.
Mas como eu não sei se a cadeira que você está lendo essa crônica é confortável ou não, chego logo ao sábado 13:45 h, quando ele finalmente comprou a cadeira.
Ficaram de entregar na segunda-feira à tarde. Seria a primeira entrega do turno.
Passo na casa dele na terça e a esposa me recebe e me manda entrar. Ele estava lendo na sala. Encontro ele lá. Bem sentado, livro na mão, luz perfeita.
___ Finalmente a compra dessa cadeira saiu. Agora sim, você vai poder ler os seus livros de literatura numa boa. Tá lendo o que? Algum clássico? Literatura nacional? Algum lançamento?
___ Que nada. Tô aqui com uns catálogos de encosto para os pés.
E antes que eu falasse alguma coisa já foi emendando:

___ A posição dos pés na hora da leitura é muito importante, num sabe. O fluxo sanguíneo....

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Meus primeiros dias de hiper

Aconteceu assim, do nada. Tava no trabalho e um suor rápido acompanhado de um “quase apagar” mais rápido ainda. Sabe aquela sensação de quando você tá quase dormindo e dá aquele susto com um arrepio. Pronto parecido com aquilo. Só que bem ligeiro e despretensioso. Nunca como um sinal de coisa séria. Poderia ser uma ressaca, uma noite mal dormida, fome....ou até alguma coisa na pressão mesmo, seja pra cima ou pra baixo, mas coisa besta.
Fui no setor médico e, pressão verificada, me aparece um inédito 15 x 10. Digo inédito porque a minha pressão sempre foi mais chegada a números pequenos, sendo o 13 um limite quase nunca transposto. A médica chegaria em uma hora e como Allan estava na minha sala esperando para irmos almoçar, resolvi não esperar a médica e fazer uma escala no hospital. A fome dava pra esperar.
Ambiente de pronto socorro não é dos melhores e o paciente passa a sentir, até pela tensão do local, tudo que é tipo de milacria. Comecei a suar de novo e aquela sensação de “teto preto” querendo chegar. Pedi pra verificarem logo a minha pressão porque não estava me sentindo bem. Bingo! Já estava parecendo placar de segundo tempo de jogo de handebol: 17 x 11.
Agora vai! Eu já estava pensando que iria parar na UTI para monitoramento. A coisa deveria ser séria. Fiz o eletro e o médico receitou um tal de Captopril de 50. Achei que era um daqueles remédios sublinguais milagrosos da novelas, aqueles que o senhor de idade quer tomar depois que descobre as falcatruas do vilão, mas este derrama todo o conteúdo pela janela.
Nada de glamour hospitalar. Uma poltrona na emergência e o remédio pra tomar com água normalmente. Nem soro me deram. Só esperar a danada baixar. Pronto baixou. Achando se tratar de um neófito no assunto hipertensivo, o médico me mandou pra casa. Não sem antes dizer que eu fosse levar meu filho pra almoçar, que ele deveria estar morrendo de fome, e de recomendar uma visita ao consultório de algum cardiologista para averiguar essa presepada da pressão.
Almocei e fui na farmácia comprar aqueles medidores de pressão de pulso. Monitorar essa danada e não deixar ela subir. O aparelhinho é todo cheio de recomendações: Posição do braço, das pernas, do corpo, horário...
13, 14, 13 de novo, 15, 16... cada vez que eu media dava um valor diferente. Essa porra deve tá quebrada, perdi foi meu dinheiro! Não tava sentindo nada mesmo. Só uma leseirinha de leve. Deixar melhorar e vou pra Caruaru fazer uma surpresa a Karla que tá lá. 16, 17, 16 de novo, 18, 19... Ih! será que ta quebrado mesmo? Melhor ver no pulso de alguém supostamente com pressão normal. Chamei Heviny e... 11 x 7. Ver no outro braço: 11 x 7, ver sentada: 11 x 7, ver deitada: 11 x 7, ver em mim: 19 x 11. Ih! de novo. Melhor ir pro hospital pra provar pra esse povo que esse medidor de pressão é mais doido do que eu.
A enfermeira começa a inflar o tensiômetro, tentava medir e... tem que encher mais, fuc, fuc, fuc... mais, fuc, fuc... ele começa a despregar o velcro. Ela pediu minha ajuda para segurar o aparelho e, por fim, o veredicto: É, sua pressão tá alta mesmo. 21 x 12. Pronto, tá virando placar de basquete. Agora com certeza vem a parte da UTI, do remédio em baixo da língua, do soro, maquininha fazendo, bip, bip.... Nada.
Uma cadeira, um outro remédio pra tomar com água, mas desta vez pelo menos saiu a sentença final: Você é hipertenso e vai tomar esse remédio pro resto da sua vida.
Agora lascou tudo. Pressão alta. É o começo do fim, ou pelo menos é hora de sacar que não sou mais um garotinho e que a tal da regra é clara, como diz Arnaldo, e tem que ser cumprida. Regrar tudo daqui pra frente. Do sal ao sol, da cerveja ao pão francês, do açúcar ao desafeto.
O danado com doença nova, ou recém descoberta, é que tudo que você sente é culpa dela. Um calor: é a pressão (não importa se as janelas estejam fechadas e seja meio dia com o sol quente); Dói o joelho: é a pressão; Tá com sono: pressão; O dedo mindinho tá dormente: pressão; Gases, dor nas juntas, espirro, tosse, vontade de ir no banheiro: tudo culpa da pressão. É muita pressão. Não penso em outra coisa. Assim não tem pressão que aguente!
Mas já tô medicado. Tomando o remédio na hora certinha e a pressão tá controlada. Amanhã tem médico, já fiz tudo que é exame e vou mostrar a ele. Com certeza vem por aí uma série de recomendações e e devo começar uma nova vida.
Tenho que ter a consciência de que tudo isso é fruto de uma vida desregrada que vivi até hoje. Que tenho que baixar a bola e diminuir, ou acabar com as extravagâncias. O problema é provar pra mim mesmo que alface é melhor que bacon, que aveia é melhor que picanha, que suco detox é melhor que cerveja e que esse belo exemplar de barriga que construí ao longo de tantos anos, a custo de tanto investimento (bebida e comida, muita e boa, custa dinheiro) tem que se acabar, ou pelo menos que reduzir. Mas antes ela do que eu.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Felicidade: Encontrei com Dona Zezé

Fui no Nordestão hoje pela manhã. Queria comprar uma camisa do novembro azul. O povo que vende não estava lá. Fiquei de voltar na hora do almoço. Encontro com Wagner, meu treinador de voley da época do colégio das Neves e, é logico, além de um abraço afetuoso, reclamou da minha barriga, bem mais saliente com o tempo.
Descendo a escada rolante encontro com ela: Dona Zezé. Maria José da Costa Delgado. Uma das criaturas mais incríveis que já conheci. Uma inteligência e humor raros. Um carinho por mim e por minha família desde os tempos de vizinhança no Barro Vermelho e que com o passar do tempo parece que só aumenta.
Entre as diversas qualidades de Dona Zezé, onde a bela voz é campeã, destaco ainda que ela é mãe de Magnus. Sem nenhum desmérito pessoal a Liane e Ângelo, mas "Gnus" é, assim como a mãe, fora de série, daqueles que a gente gosta de graça (falamos inclusive disso: da tietagem que temos com Magnus eu, a desembargadora Maria Zeneide e meio mundo de gente).
É o tipo de encontro que a gente ganha o dia. Saí de lá com a alma cheia de alegria, com vontade de sorrir, com a certeza de que vale a pena viver e ser feliz. Além das perguntas: Como vai Beltrano, como vai Cicrano, conversamos o que? Nada demais. Rimos, rimos muito da vida. Da magia de estarmos vivos e com saúde. Marcamos um encontro pra tocar um violão e tomar umas. Não sei nem se vai acontecer, mas o simples fato de marcar alguma coisa com Dona Zezé já me dá alegria.
Mas vou torcer para acontecer, pra relembrar os velhos tempos de Pirangi, das serestas ao luar, ou mesmo do violão tocado debaixo da rede de Ângelo sendo embalado na Pacífico de Medeiros. Quem não dormiria ao som da magistral voz da mãe cantando a canção que fez pra ele: “Ele é o meu tesouro, pedaço tão bom que nasceu de mim” e mais na frente a declaração de amor maternal: “...Seu choro sentido, machucava em mim. E logo eu corria, que pressa perdida, nada era enfim. No entanto eu sentia, que aquele menino, chorava por mim”.

A alegria é sim Dona Zezé o nosso maior tesouro nesta vida. Ser alegre é quase que uma obrigação divina. Falando nisso, e como com a gente tudo acaba em música, fico com a lição da banda Cidade Negra, que inclusive levo tatuada em meu corpo para não esquecer: “Deus é a vontade de estar feliz”. Dona Zezé é feliz.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Carta a Seu Jorge

Seu Jorge,

Estou lhe escrevendo para tirar uma dúvida de uma amiga minha e só você pode me ajudar. O caso é o seguinte:
Estava em casa numa sexta-feira, antes de tomar a primeira, quando Carol me manda uma mensagem pelo Whatsapp. Ela estava num barzinho tomando uma cervejinha com o marido e a filha (Infelizmente a cerveja não era uma Karavelle), e foi logo dizendo o problema:
___ Natchu, estamos aqui bebendo e escutando aquela música de Seu Jorge: Você acredita que o orelhão tava escangalhado? Que o cartão tava zerado, a ponte engarrafou, aqueles negócios tudinho?...... . Porque uma pessoa que diz “Pretinha, eu faço tudo pelo nosso amor”, num vai pedir um celular emprestado pra ligar? Num vai andar até duas ou três esquinas pra encontrar outro orelhão?
Em resumo ela queria que eu dissesse a minha opinião. Se eu acreditava ou não que a ponte tinha engarrafado, que por isso o cara tinha ficado a pé e que juntamente com isso ele tinha tentado ligar pra pretinha dele e não tinha conseguido, pois além do cartão telefônico dele estar zerado, o orelhão ainda estava escangalhado. Ela tava achando muita desculpa junta pra uma coisa só e muito pouca ação pra quem faz tudo por amor.
Seu Jorge, deixe eu lhe deixar a par das opiniões: Carol acha que o cara tá mentindo descaradamente e ponto final e que por causa disso fica prejudicada a parte que ele diz que faz tudo pelo amor da pretinha.
Já o marido dela jura de pé junto que é tudo verdade. Que realmente tudo isso aconteceu. Que ele passou por esses perrengues todos e que nada disso invalida o tudo que ele faz pelo amor deles.
Antes de dar a minha opinião, lembro que ela insistia, entre os argumentos, que ele poderia ter pedido o celular emprestado de alguém pra ligar, o que o marido refutou de pronto, pois segundo ele, violão, mulher e celular não se empresta e nem se pede emprestado.
Com relação ao celular, vale contextualizar que a música, de quando você ainda fazia parte do grupo farofa carioca, data de 1997. Celular ainda era um artigo de poucos e os recursos eram mínimos (a grande inovação nos de 97, só pra se ter uma idéia, era a moderna antena interna como a do Nokia 6110). Então vamos logo tirar essa culpa do cara da pretinha. Naquela época não era tão “zap” assim a comunicação por telefonia móvel.
Sei que a palavra final será a sua, já que você é o dono da música e por isso ninguém conhece mais o coração do cara da pretinha do que você, sei também que, como dizia o outro poeta musical Gilberto Gil em sua “metáfora” não devemos exigir do poeta que determine o conteúdo e o sentido exato de seus versos, mas vou tentar dizer o que entendi da história.
Morador de São Gonçalo, cidade vizinha a Niterói, nosso herói, pelo que se pode concluir namora uma mina da cidade do Rio de Janeiro. Ele é louco por ela, isso não resta dúvida, realmente faz tudo pelo amor dos dois. Ele marcou um rolé com a pretinha, mas, você sabe como é, deve ter rolado um futebol, depois uma resenha, uma cervejinha (que mais uma vez não era Karavelle que ainda não existia) e.... Puta que pariu! Esqueci que tinha que sair com minha pretinha e agora?
Aí, amigo, é carregar na desculpa pra ver se pelo menos uma cola, mas realmente sem nenhuma maldade. Futebol tranqüilo, resenha só com os chegados, cervejinha só pra relaxar, nada de azaração. E depois só pra confirmar e convencê-la de uma vez por todas ele promete até casamento, com direito a cartório, igreja, troca de anel e tudo mais e ainda é humilde o suficiente pra dizer: tudo bem, eu sei que pisei na bola, você aceita se casar comigo se quiser, se não quiser tudo bem.
E pra mim a sacada mais genial dele, que mostra que ele pode até ser malandro, mas que é sincero com os sentimentos a sua musa é quando ele, depois de inventar um monte de desculpa diz: Mas você crê se quiser. Fantástico. É quase como quem diz: Você sabe que eu tô mentindo, mas não fiz nada demais, me perdoa!
É isso Seu Jorge, essa é a dúvida de Carol, que virou minha também e aposto que de um bocado de gente: Aconteceu mesmo esse monte de imprevistos? Ele faz realmente tudo pelo amor dela?
Aguardamos resposta
Mas você responde se quiser.

Grande abraço

Renato Vilar




Pretinha
(Seu Jorge)

Pretinha, faço tudo pelo nosso amor
Faço tudo pelo bem do nosso bem, meu bem
A saudade é minha dor, e anda arrasando com o meu coração
E não duvide que um dia eu te darei o céu
O meu amor junto com um anel, pra gente se casar
No cartório ou na igreja.
Se você quiser
Se não quiser tudo bem, meu bem
Mas tente compreender
Morando em São Gonçalo você sabe como é
Hoje a tarde a ponte engarrafou
E eu fiquei a pé.
Tentei ligar pra você
O orelhão da minha rua estava escangalhado

O meu cartão tava zerado, mas você crê se quiser.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Com o pau na mão

Não, eu não vou escrever algo gozando do pau dos outros, eu também tenho um. Mas afinal, quem não tem? Nos dias de hoje, mais importante do que ter uma máquina fotográfica, um celular, ou qualquer outra geringonça que bata um foto é ter um “pau de selfie”. Não basta ser selfie, tem que ser tirada com o tal pauzinho, cuja principal função é encompridar os braços do retratista, ou melhor, do auto-retratista, para que ele não apareça meio disforme, com um ombrão e um corpo pequeno.
Virou moda esse negócio de selfie. Antigamente a gente ficava pensando: vou pedir pra quem tirar essa foto da gente? Não, aquele não, meio suspeito; melhor aquela menina... Geralmente conseguíamos alguém, e o mais importante, de vez em quando fazíamos amigos, ou pelo menos colegas momentâneos. Depois, você tirava uma foto da pessoa na máquina dela, daí surgia a sugestão de um passeio para fazer, descobria-se que tinham reservado o mesmo espetáculo para a noite... e por aí ia. Ou não, às vezes a pessoa batia a foto, você agradecia e ela seguia seu rumo.
Mais uma interação humana que acabou. Nem o garçom é mais chamado para bater foto. O pau resolve. Se existisse a profissão de tirador esporádico de foto alheia, pense numa ruma de desempregado.
É tanto pau de selfie no mundo que até a ANAC entrou na história do pau. Pode embarcar com o pau na mão? Ei, fulano entrou com o pau dele, porque eu não posso entrar com o meu? O meu até menor é! O pau dele é melhor do que o meu só porque meu é da 25 de março e o dele do free shop de Miame? Mas agora tá tudo tranquilo. Liberou geral, todo mundo pode embarcar com o pau na mão e de preferência tirar umas 35 selfies antes de sentar na poltrona. Dá tempo de postar no face ou no instagram: #opauentroueaaeromoçadeixou #jaquetadentrodeixa.
O que eu acho mais interessante é que o pau, que era pra ficar escondido, para disfarçar, pra a gente achar que a foto foi tirada por um terceiro ou por um ET qualquer, pra ficar todo mundo retinho e bem postado na foto, virou personagem principal. Todo mundo posicionado e o danado do pau todo desfocado no meio da foto, estragando tudo. Vá entender! É a involução da fotografia.
Por falar em pau de selfie, o meu quebrou. Minha esposa vivia brigando comigo: Você empresta seu pau pra todo mundo. Todo mundo pega, estica, bota e vai bater por aí com ele. Vão findar quebrando. Não digo nada. Tome cuidado com seu pau. Scataploft! Quebrou! E advinha quem tava mexendo no meu pau? Ela mesma. Se fosse alguém que não tivesse costume, que se espantasse com o tamanho – ou com a falta dele – com o manejo, tudo bem, mas logo ela que conhecia ele tão bem. Mas fazer o que?
O jeito é, antes de comprar um pau novo, tirar selfie com o pau alheio. Prometo que bato com carinho.

P.S.: Ah, outra coisa que me intriga: se hoje em dia a maioria das fotos tiradas de celular são selfies, porque danado é que a resolução da câmara frontal é bem menor do que a outra? Dava pra pelo menos ser igual? #ficaadica.












Pioneiro: o britânico Arnold Hogg utiliza um bastão para se fotografar com a sua mulher, Helen, em 1926 - Alan Cleaver / ReproduçãoImagem do site http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/fotografia-de-1926-mostra-uso-pioneiro-de-pau-de-selfie-14908747#ixzz3QsJRp1NG 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Quero o meu Face de volta

Aguento mais não! Da primeira à última olhada no meu Facebook só aparecem dois assuntos. Aécio e Dilma e suas variáveis. 45 ou 13, PT ou PSDB, Lula ou FHC. E como se isso não bastasse a divisão do mundo entre os seguidores de um ou de outro. Cada um que pense, pregue, acredite e esbraveje que quem tá do outro lado é a reencarnação do capiroto fumando crack estragado ao meio dia em ponto debaixo do quadro da santa ceia. Sei não viu!
Tá ficando um saco. Procuro as postagens de viagens, de paisagens e nada. Dilma e Aécio. Quando penso que vou saber que a filha da irmã da ex-amiga de minha prima no maternal teve bebê.... PT e PSDB. Louco pra ver um vídeo daquele de sofrência com Pablo cantando “Você foi a culpada desse amor se acabar !!!!...” e me inspirar pra tomar uma... 45 e 13.
Dá não, minha senhora e meu senhor. Você não vai acreditar: sentindo falta de corrente de oração. Daquelas que se você não mandar para 13 amigos em 13 minutos vai ter 13 anos de azar, vai broxar 13 vezes e vai ficar pobre em 13 dias. Isso na versão PT porque na versão PSDB são 45 amigos, 45 minutos, 45 anos de azar, 45 broxadas e por aí vai 45. (resolvi botar esse último 45 pra que o povo não diga que tinha um 13 a mais – confesse que você acabou de contar!)
Receber aqueles vídeos de funk ostentação já é pedir demais. Gente bêbada dançando no youtube um sonho de consumo. Aquelas mensagens de auto-ajuda, onde o mundo é rosa e você pode ser a reencarnação de um misto de Madre Teresa de Calcultá com a princesa Diana, junto com Jonh Lenon, Buda e Ayrton Senna o verdadeiro paraíso.
Mas não. Só dá Aécio e Dilma. Respirar não é preciso, acabar com a raça um do outro é primordial. Não tô falando que o debate político não seja fundamental, que expor suas ideias e opiniões políticas não seja de grande importância para o crescimento da democracia, mas fazer isso 9.457 vezes por dia é exagero.

Graças a Deus que é só até domingo – tudo bem, sei que teremos mais no mínimo uns 10 dias de zoações como uma final de campeonato de futebol, mas passa. Tem que passar. Enquanto isso não chega: #peloamordedeus me mandem alguma postagem diferente. Qualquer coisa serve. Mesmo que seja um pedido para jogar Candy Crush ou Farm Ville. E eu pensando que esses joguinhos eram a pior praga do Face...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pra Tati

Muere lentamente
quien se transforma
en esclavo del hábito,
repitiendo todos los dias
los mismos trayectos.”
Isto é Pablo Neruda
Querida Tati,

Os paralamas do sucesso cantaram que “a vida não é filme”. Será? Pode até não ter roteiro nem set de filmagem, mas cada um de nós faz parte desta maravilhosa película chamada vida. E por não ter roteiro o nosso diretor celeste às vezes faz o acaso traçar novos rumos. Em O poderoso chefão, por exemplo, o gato que aparece na primeira cena de Marlon Brando não estava no roteiro, parece que foi encontrando por acaso pelo ator no galpão de filmagem, mas deu toda a magia a cena o tal bichano.
Pois é isso Tatiana, o filme da sua vida ganhará em breve um novo espaço de locação. Rasga o oceano e pousa em terras espanholas. Mas essa não é a última seção de cinema do seu filme. Ele está apenas começando a ser rodado. Assim como em o ano passado em Marienbad a sua atração pelo novo, pelo desconhecido está lhe levando a Madrid para lhe tornar uma cinéfila cada vez mais competente.
É hora de alegria então. É abrir as asas do desejo e voar de encontro aos seus sonhos. Fugir desta morte lenta imposta pela mesmice cotidiana que nos fala Neruda exige, assim como em Pulp Fiction e Bonequinha de luxo, difíceis escolhas, mas que mudam radicalmente o nosso roteiro. Às vezes temos que nos desfazer de tudo que temos para acalantar este sonho como fez Antonio Ricci em ladrões de bicicleta. Mas sonhar é o que importa, alçar vôo em direção ao realizar. Sair por aí cantando na chuva, sem medo de se molhar, ao sabor da melodia da felicidade.
Tati, lhe confessei um dia desses que quando meu filho mais velho se tornou adulto e sonhando poder eu escolher alguém para ele namorar, pensava vê-lo namorando com você. E lhe digo mais, você é a pessoas dos sonhos de qualquer homem com algum juízo. Não só pela grande beleza que você tem, mas principalmente e acima de tudo pela inteligência privilegiada que possui. A mocinha do roteiro dos sonhos de qualquer um.
E como não temos Amnésia, vamos lembrar um pouco a sua trajetória aqui no TRE. Vamos olhar para esse tempo com o olhar de Hiro em Dolls. Você entrou aqui em nove de março de 2006 recém saída da faculdade de Direito. A cabeça fervilhando de pensamentos como o taxista de Taxi driver. Foi para a seção de contratos licitações e compras e por lá ficou até 27 de abril de 2010. Qualquer um que conviveu ou que convive com você sabe que você é uma mulher bem a frente deste tempo, e por este motivo você sabe que faz parte do mundo dos incompreendidos, e com isso tanta boa idéia foi jogada fora pelo engessamento e o medo de evoluir e inovar desta instituição. Sei que às vezes você chegou a se sentir um Alex DeLarge de laranja mecânica, mas nunca se deixou abater. Seu sonho sempre insistia em sonhar.
Em 28 de abril de 2010, já estudante de comunicação você vai para a Assessoria de comunicação social e cerimonial e pra variar mais uma vez da show. Faz acontecer. O amor e a dedicação pela palavra escrita lembra a de Dora em Central do Brasil, o olhar curioso, aguçado e apaixonado pela fotografia lembra Anna de Closer: perto demais. Mais ASCOM impossível.
A partir de 18 de março de 2014 aceita mais um desafio e vem para o gabinete da presidência. E não é que a danadinha se dá bem também. O gabinete tá em polvorosa com a sua saída. E agora o que fazer sem a pequena grande Tati?
Mas a vida segue, os sonhos seguem. O cine vida tem sempre novas sessões e novos lançamentos para exibir.
O que fica como acalanto para esses dias sem Tati por aqui? Fica o exemplo da mulher apaixonada pela vida e cuja paixão pode mudar os que lhe rodeiam como Edie Doyle fez no Sindicato dos ladrões.
Essa não pode ser uma sessão de despedida. Tem que ser alegre como uma festa em família, uma celebração de mais uma vitória da nossa protagonista favorita.
Voa doce Tati em busca de novos encantos. Que essa viagem não seja tão louca como as de Bonnie e Clyde mas que seja cheia de descobertas que mudem a sua vida como o que aconteceu com Amelie depois de descobrir a caixa escondida em o fabuloso destino de Amelie Poulain.
Sabemos não ser fácil qualquer tipo de mudança, imagina uma de continente, mas fica aqui, por fim, as palavras de Francis Ford Coppola “Você tem que realmente ser corajoso sobre seus instintos e suas idéias. Caso contrário, você só vai desistir, e coisas que poderiam ter sido memoráveis serão perdidas.”

Coragem, boa sorte e boa viagem...