Seu Jorge,
Estou lhe escrevendo para tirar uma dúvida de uma amiga
minha e só você pode me ajudar. O caso é o seguinte:
Estava em casa numa sexta-feira, antes de tomar a
primeira, quando Carol me manda uma mensagem pelo Whatsapp. Ela estava num
barzinho tomando uma cervejinha com o marido e a filha (Infelizmente a cerveja
não era uma Karavelle), e foi logo dizendo o problema:
___ Natchu,
estamos aqui bebendo e escutando aquela música de Seu Jorge: Você acredita que
o orelhão tava escangalhado? Que o cartão tava zerado, a ponte engarrafou,
aqueles negócios tudinho?...... . Porque uma pessoa que diz “Pretinha, eu faço
tudo pelo nosso amor”, num vai pedir um celular emprestado pra ligar? Num vai
andar até duas ou três esquinas pra encontrar outro orelhão?
Em resumo ela queria que eu dissesse a minha opinião. Se
eu acreditava ou não que a ponte tinha engarrafado, que por isso o cara tinha
ficado a pé e que juntamente com isso ele tinha tentado ligar pra pretinha dele
e não tinha conseguido, pois além do cartão telefônico dele estar zerado, o
orelhão ainda estava escangalhado. Ela tava achando muita desculpa junta pra uma
coisa só e muito pouca ação pra quem faz tudo por amor.
Seu Jorge, deixe eu lhe deixar a par das opiniões: Carol
acha que o cara tá mentindo descaradamente e ponto final e que por causa disso
fica prejudicada a parte que ele diz que faz tudo pelo amor da pretinha.
Já o marido dela jura de pé junto que é tudo verdade. Que
realmente tudo isso aconteceu. Que ele passou por esses perrengues todos e que
nada disso invalida o tudo que ele faz pelo amor deles.
Antes de dar a minha opinião, lembro que ela insistia,
entre os argumentos, que ele poderia ter pedido o celular emprestado de alguém
pra ligar, o que o marido refutou de pronto, pois segundo ele, violão, mulher e
celular não se empresta e nem se pede emprestado.
Com relação ao celular, vale contextualizar que a música,
de quando você ainda fazia parte do grupo farofa carioca, data de 1997. Celular
ainda era um artigo de poucos e os recursos eram mínimos (a grande inovação nos
de 97, só pra se ter uma idéia, era a moderna antena interna como a do Nokia
6110). Então vamos logo tirar essa culpa do cara da pretinha. Naquela época não
era tão “zap” assim a comunicação por telefonia móvel.
Sei que a palavra final será a sua, já que você é o dono
da música e por isso ninguém conhece mais o coração do cara da pretinha do que
você, sei também que, como dizia o outro poeta musical Gilberto Gil em sua
“metáfora” não devemos exigir do poeta que determine o conteúdo e o sentido
exato de seus versos, mas vou tentar dizer o que entendi da história.
Morador de São Gonçalo, cidade vizinha a Niterói, nosso
herói, pelo que se pode concluir namora uma mina da cidade do Rio de Janeiro.
Ele é louco por ela, isso não resta dúvida, realmente faz tudo pelo amor dos
dois. Ele marcou um rolé com a pretinha, mas, você sabe como é, deve ter rolado
um futebol, depois uma resenha, uma cervejinha (que mais uma vez não era
Karavelle que ainda não existia) e.... Puta que pariu! Esqueci que tinha que
sair com minha pretinha e agora?
Aí, amigo, é carregar na desculpa pra ver se pelo menos
uma cola, mas realmente sem nenhuma maldade. Futebol tranqüilo, resenha só com os
chegados, cervejinha só pra relaxar, nada de azaração. E depois só pra
confirmar e convencê-la de uma vez por todas ele promete até casamento, com
direito a cartório, igreja, troca de anel e tudo mais e ainda é humilde o
suficiente pra dizer: tudo bem, eu sei que pisei na bola, você aceita se casar
comigo se quiser, se não quiser tudo bem.
E pra mim a sacada mais genial dele, que mostra que ele
pode até ser malandro, mas que é sincero com os sentimentos a sua musa é quando
ele, depois de inventar um monte de desculpa diz: Mas você crê se quiser.
Fantástico. É quase como quem diz: Você sabe que eu tô mentindo, mas não fiz
nada demais, me perdoa!
É isso Seu Jorge, essa é a dúvida de Carol, que virou
minha também e aposto que de um bocado de gente: Aconteceu mesmo esse monte de
imprevistos? Ele faz realmente tudo pelo amor dela?
Aguardamos resposta
Mas você responde se quiser.
Grande abraço
Renato Vilar
Pretinha
(Seu
Jorge)
Pretinha,
faço tudo pelo nosso amor
Faço
tudo pelo bem do nosso bem, meu bem
A
saudade é minha dor, e anda arrasando com o meu coração
E não
duvide que um dia eu te darei o céu
O meu
amor junto com um anel, pra gente se casar
No
cartório ou na igreja.
Se você
quiser
Se não
quiser tudo bem, meu bem
Mas
tente compreender
Morando
em São Gonçalo
você sabe como é
Hoje a
tarde a ponte engarrafou
E eu
fiquei a pé.
Tentei
ligar pra você
O
orelhão da minha rua estava escangalhado
O meu
cartão tava zerado, mas você crê se quiser.
Grande Renato! Com seus textos leves e descontraídos! Adoro essa leitura que me faz refletir sobre coisas que são cotidianas mas que nunca havia pensado por essa ótica! Grande Abraço meu amigo!
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