segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Filosofia kitesurf

As nossas praias ganharam um colorido especial. É a nova onda, o esporte radical da moda: Kitesurf. Uma mistura de diversos esportes náuticos e aéreos. Em suma, uma coisa linda de se ver, uma vela colorida quase prima de um paraquedas, rasgando céu e mar em manobras radicais feitas em um tipo de filhote de prancha de surf.
Vou para a praia para ver mais um show dos kitesurfistas. Me acomodo em uma cadeira da barraca e me preparo para assistir o espetáculo. Mas apenas um velejador de vela verde limão faz acrobacias no mar. E vai, e vem e voa, e dá cambalhotas e...logo sai do mar. Recolhe seus apetrechos e vem em minha direção, pergunta se tem alguém na cadeira ao lado. Diante da minha negativa senta e depois de um longo suspiro de cansaço chama o garçom e pede uma cerveja.
Peço também a minha e fico matutando cá com os meus botões: como é que eles conseguem ir e vir se a direção do vento é uma só? Aproveito a oportunidade da chegada da cerveja para me apresentar e perguntar como é que a coisa funciona. Ele começa a me explicar sobre o kite (a pipa), a prancha, as linhas, a barra de controle, depois me fala sobre janela de vento, zona de pressão, perna, velejo orçado e mais um monte de coisas, mas eu findo entendendo apenas que é através dessas linhas, que controlam o kite, que ele consegue executar manobras que fazem com que o mesmo vento que leva na ida traga-o no caminho de volta . “Navegar é preciso” já cantava o poeta, não só no sentido de necessidade mas no sentido de precisão.
Papo vai, papo vem e mais cerveja também,  começo a filosofar e crio – olha que ousadia – a filosofia Kitesurf . Não importa a direção do vento, nós é que traçamos o nosso destino. O mesmo vento que nos leva para as profundezas do oceano, pode nos trazer a segurança da praia. Só depende da “manobra” que usamos. Por mais contrário que o vento possa parecer ele pode ser usado a nosso favor. Sobre o filho de um alcoólatra, por exemplo, pode-se ouvir o seguinte comentário: “vive bebendo, também, olha o exemplo do pai” ou “não toca em álcool, também, viu o exemplo do pai”. O vento contra é o mesmo, o destino seguido é que foi oposto.
Em suma esta é a tese da filosofia Kitesurf, devemos saber aproveitar todos os acontecimentos da vida para nos levar ao destino que escolhemos. Se for bom, vento a favor, ótimo. Nos acalenta, nos dá forças, nos mostra que estamos no rumo certo. Se for ruim, vento contra, ótimo também. Nos desafia, nos aprimora, nos alerta para mantermos o rumo certo.
Estou finalizando mentalmente a minha tese quando meu amigo se despede, pede a conta e fica esperando, olhando o mar. “ É, tá sem vento hoje, e acho que não vai voltar”. Pronto. Encontrei uma situação que coloca a tese abaixo. Falou-se em vento contra e vento a favor mas eu esqueci que tem horas que não tem vento. E ai? É, desanimei, parece que realmente só é possível filosofar em alemão.

Me deu um estalo e eu perguntei ao meu amigo que já tava saindo: “e quando não tem vento, o que é que se faz?” E ele sabiamente me respondeu: “Quando não tem vento, eu pego o meu equipamento, saio do mar, sento em uma cadeira, peço uma cerveja e deixo o tempo ruim passar. Tem dias de velejar, outros de ver o mar”.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Rótulo é pra lata


Acho que a culpa é de Andy Warhol e o seu trabalho na Cambell’s Soup Cans. Depois disso o rótulo passou a ter uma importância impressionante nas nossas escolhas. Escolhemos o que vamos consumir dentro da lata, pelo que começamos a comer com os olhos por fora dela, fazendo assim um conceito a respeito do que tem lá dentro, mesmo antes de provar o conteúdo: Pré conceito. Das sopas de tomates de Warhol à lata do achocolatado da garotada, passamos assim a rotular nosso consumo.

Mas quando levamos essa cultura “enlatada” para o terreno musical a desgraça aumenta. Pessoas sem nenhum conhecimento sobre música, ou com conhecimento específico em um determinado gênero, rotulam preconceituosamente alguns segmentos musicais, sem ter o menor embasamento técnico ou sem nem ao menos conhecer o trabalho musical do cidadão.

Tava assistindo um vídeo no youtube, acho que gravado em 78, onde Caetano Veloso chamava o repórter e crítico Geraldo Mairinque de burro. Isso tudo, dentre outras coisas, porque o cara tinha metido o pau em alguns versos de canções do disco “muito”, qualificando-os de ruins e atribuindo a autoria ao ainda cabeludo baiano.

Os versos eram na verdade das canções Boneca de piche de Ary Barroso e Olha pro céu, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. “Os versos não são maus e não são meus” falou Caetano, mostrando o despreparo de Mairinque para falar de música popular brasileira sem conhecimento suficiente para isso.

Mas voltando as latas, digo, aos rótulos, quem mais sofre com tudo isso é o tal do brega. Começa logo pelo Aurélio que diz ser “deselegante, cafona”. A chamada música brega virou designação de musica romântica, melosa, de dor de cotovelo, mas não existe uma precisão estética quanto ao que venha a ser o tão falado e menosprezado estilo.

Aonde tem rótulo, tem preconceito e aonde tem preconceito tem ignorância e falsas conclusões. Exemplo: Fernando Mendes – brega, Caetano Veloso – M.P.B. Fernando Mendes – música de menor qualidade, Caetano Veloso – Musica de qualidade intelectual excepcional. E a música “você não me ensinou a te esquecer” de Fernando Mendes? É Brega ou intelectual? Era bregão até que Caetano gravou. Gênio da MPB! Que música linda do caralho, dissemos.

“Doce, doce amor, onde tens andado, digas por favor” cantava o brega Jerry Adriani, enquanto o antenado e alternativo Raul Seixas dizia “É você se olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota, saber que é humano, ridículo, limitado, que só usa dez por cento de sua cabeça animal”. Epa, mas peraí! Quem é o autor de doce, doce amor? Ele mesmo, Raulzito.

Esse preconceito corre em sentido oposto também. Você não pode dizer que não gosta de determinado cantor ou compositor do time dos intelectuais da MPB. Tenho um amigo, que embora respeite e saiba da importância histórica de Tom Jobim na musica mundial, caiu na besteira de dizer que não gosta da música do cara. Saltou logo uma metida a antenada e de gosto indiscutível e sacramentou: “Como pode ousar não gostar de Tom Jobim, isso é o fim, ele é o maior”. Por azar dela, esse meu amigo pegou uma carona com ela no outro dia. Ao entrar no carro falou: Coloca aí um Cd de Tom Jobim pra eu poder escutar e mudar minha opinião. “Cd de Tom Jobim? Tenho não”. Mas em casa você deve ter uma coleção! – retrucou ele – “Na verdade não. Gosto muito, mas não tenho nada dele”. Pergunto: Gosta mesmo, ou diz que gosta só para parecer que tem gosto refinado? Em comunicação, uma teoria chamada efeito da terceira pessoa explica isso.

Isso sem falar na música internacional. Ouvimos e admiramos um pop/rock que quando traduzido deixa qualquer Amado Batista no chinelo. “Eu morri todos os dias esperando você. Amor, não tenha medo. Eu te amei por mil anos e te amarei por mais mil” canta Christina Perri na sua “a thousand years”; enquanto isso Rihanna em “diamonds” diz que “Eu logo soube que nos tornaríamos um só. Oh! Bem no começo, à primeira vista eu senti a energia dos raios do sol, vi a vida dentro dos seus olhos”.

Mas voltando ao brega, um dos únicos que tem coragem de se intitular cantor Brega é o rei: Reginaldo Rossi.Mas cá pra nós, que ele não me escute: O cara dá um show de M.P.B. da melhor qualidade. Uma aula musical que várias pessoas deveriam assistir para aprender um pouco mais sobre o assunto, antes de sair por aí colocando rótulos ou selos de qualidade em latas que não se tem idéia do conteúdo. Melhor não se meter e deixar isso para Andy Warhol. Pelo menos competência e conhecimento para isso ele tinha.




terça-feira, 6 de agosto de 2013

Hei, afro! na estrada


“Gentileza gera gentileza”. É quando leio estas palavras do profeta Marcio José Andrade da Silva, estampadas no concreto das pilastras do viaduto da avenida Brasil, que me sinto realmente no Rio de Janeiro. Retomo mais na frente essas palavras.
A banda Cidade Negra abriu a turnê Hei, Afro! no VIVORIO, parque do Flamengo (time de coração da banda), na sexta-feira 02 de agosto. Primeira depois do retorno de Toni Garrido aos vocais da banda em janeiro de 2011.
É o trio Bino Farias, Marcos Lazão e Toni Garrido fazendo o que mais gosta: botar o pé na estrada e divulgar um novo trabalho.
O CD, que tem 13 faixas, foi mixado na terra do reggae e conta com a produção do mestre Liminha em duas músicas. O restante leva a assinatura dos três Cavaleiros Cidadeanos. O álbum, uma gostosa mistura reggae/pop, é um chamado às nossas raízes, à África que carregamos no nosso sangue, no nosso dia-a-dia. “A nossa casa é nossa África”. As letras de cunho social estão presentes no trabalho ao lado de outras composições mais leves e românticas.
O encarte segue no mesmo padrão de qualidade das canções e é visualmente impressionante. As ilustrações são do arquiteto, multi artista plástico e designer Helio Pellegrino e a peça é concebida pelo grafiteiro e muralista Eduardo Kobra.
No show, além do baixo de Bino, da bateria de Lazão e da voz de Toni, a banda conta com os teclados de Alex Meirelles, com Sérgio Yasbek na guitarra, e com a metaleira de Fabiano Segalote e Vitor Tosta (trombones) e Silvério Pontes e Matheus Morais (trompetes). A banda inaugura ainda uma nova disposição dos músicos no palco, trazendo a batera de Lazão pra frente (lado direito), deixando assim, o trio como donos do pedaço.
O repertório apresenta as canções do novo trabalho, mas mescla os eternos hits do reggae nacional cantados pela banda nos trabalhos anteriores. O que impressiona é que as novas “diamantes” e “hei afro!” já estão na boca da galera e as fortes “ignoruis man” e “paiol de pólvora” botam pra pensar, e por que não, pra dançar também.
O “tempo” que os três se deram, serviu para devolver a banda aquele frescor e espontaneidade tão marcantes no auge da carreira da banda. São os erês de volta aos palcos, brincando, se divertindo e ocupando o lugar de destaque no reggae nacional que eles sempre mereceram estar.
Para garantir o sucesso da turnê a banda conta com a produção executiva de Renato Oliveira e Tatiana Horácio, com a coordenação de produção de Alexandre Santos, a assistência de produção de Eduardo Setúbal e a produção técnica de Anderson Silva.
Os roades Alex monteiro e Alexandre Soares cuidam do palco, Frederico Coelho é técnico de monitor, Paulo Morais, técnico de P.A e Mario Lobo, técnico de luz.
A bela iluminação fica por conta da Oficina de Luz, Zé Luiz Joels e Cia de Luz, enquanto que o figurino é de responsabilidade da estilista Regina Coelho. Tudo isso realizado pela Public Ação e com o apoio Dr. Veit Oral Care.
Lembrando do “gentileza gera gentileza” lá do começo, cheguei no rio na manha do dia 02 e à noite, é lógico, fui ver a largada da turnê do Hei afro! E o que uma coisa tem a ver com a outra? Resposta simples: Temos que ser gentis com tudo e com todos. A natureza entra nessa também.
Foi querendo ser gentil com o nosso planeta que a banda resolveu, junto com a ONG salve o planeta azul, fazer uma turnê sustentável. Ih! Lá vem aquele papo “ecochato” de não pode isso, cuidado com aquilo!... Não. As ações de sustentabilidade são de iniciativa da produção do espetáculo. Da roupa que a equipe usa (confeccionada em tecido feito de garrafa pet) ao biocombustível usado para locomoção, transporte e geradores, passando pela cenografia feita de material reciclado, a coleta seletiva e recolhimento inteligente de dejetos, além de uso de copos biodegradáveis, entre outras.
Assim, pura gentileza para o planeta. A partir de iniciativas simples como essa de idéia de levar o som ao redor do país com sustentabilidade, a banda vai reinventando a sua música, fazendo a sua história e quem sabe assim, mudando a do planeta para melhor.
A semente está plantada, basta que façamos a nossa parte. Juntos poderemos mudar o rumo do planeta azul. “Let’s get together and feel all right”, já dizia o gentil Bob.
A turnê segue para são Paulo dia 10 de agosto e depois vai correr o país inteiro. Hei, afro! se liga no som e nas idéias.

Maiores informações sobre a turnê e sobre as ações