As
nossas praias ganharam um colorido especial. É a nova onda, o esporte radical
da moda: Kitesurf. Uma mistura de diversos esportes náuticos e aéreos. Em suma,
uma coisa linda de se ver, uma vela colorida quase prima de um paraquedas,
rasgando céu e mar em manobras radicais feitas em um tipo de filhote de prancha
de surf.
Vou
para a praia para ver mais um show dos kitesurfistas. Me acomodo em uma cadeira
da barraca e me preparo para assistir o espetáculo. Mas apenas um velejador de
vela verde limão faz acrobacias no mar. E vai, e vem e voa, e dá cambalhotas
e...logo sai do mar. Recolhe seus apetrechos e vem em minha direção, pergunta
se tem alguém na cadeira ao lado. Diante da minha negativa senta e depois de um
longo suspiro de cansaço chama o garçom e pede uma cerveja.
Peço
também a minha e fico matutando cá com os meus botões: como é que eles
conseguem ir e vir se a direção do vento é uma só? Aproveito a oportunidade da
chegada da cerveja para me apresentar e perguntar como é que a coisa funciona.
Ele começa a me explicar sobre o kite (a pipa), a prancha, as linhas, a barra
de controle, depois me fala sobre janela de vento, zona de pressão, perna,
velejo orçado e mais um monte de coisas, mas eu findo entendendo apenas que é
através dessas linhas, que controlam o kite, que ele consegue executar manobras
que fazem com que o mesmo vento que leva na ida traga-o no caminho de volta .
“Navegar é preciso” já cantava o poeta, não só no sentido de necessidade mas no
sentido de precisão.
Papo
vai, papo vem e mais cerveja também,
começo a filosofar e crio – olha que ousadia – a filosofia Kitesurf .
Não importa a direção do vento, nós é que traçamos o nosso destino. O mesmo
vento que nos leva para as profundezas do oceano, pode nos trazer a segurança
da praia. Só depende da “manobra” que usamos. Por mais contrário que o vento
possa parecer ele pode ser usado a nosso favor. Sobre o filho de um alcoólatra,
por exemplo, pode-se ouvir o seguinte comentário: “vive bebendo, também, olha o
exemplo do pai” ou “não toca em álcool, também, viu o exemplo do pai”. O vento
contra é o mesmo, o destino seguido é que foi oposto.
Em
suma esta é a tese da filosofia Kitesurf, devemos saber aproveitar todos os
acontecimentos da vida para nos levar ao destino que escolhemos. Se for bom,
vento a favor, ótimo. Nos acalenta, nos dá forças, nos mostra que estamos no
rumo certo. Se for ruim, vento contra, ótimo também. Nos desafia, nos aprimora,
nos alerta para mantermos o rumo certo.
Estou
finalizando mentalmente a minha tese quando meu amigo se despede, pede a conta
e fica esperando, olhando o mar. “ É, tá sem vento hoje, e acho que não vai
voltar”. Pronto. Encontrei uma situação que coloca a tese abaixo. Falou-se em
vento contra e vento a favor mas eu esqueci que tem horas que não tem vento. E ai?
É, desanimei, parece que realmente só é possível filosofar em alemão.
Me
deu um estalo e eu perguntei ao meu amigo que já tava saindo: “e quando não tem
vento, o que é que se faz?” E ele sabiamente me respondeu: “Quando não tem
vento, eu pego o meu equipamento, saio do mar, sento em uma cadeira, peço uma
cerveja e deixo o tempo ruim passar. Tem dias de velejar, outros de ver o mar”.