quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Os becos da vida

“Passei hoje pelo beco que eu dei o meu primeiro beijo na boca. Nem liguei, ele lá, imóvel, e eu passei. Só isso”. (José Arnaldo)
                   Quem não tem um beco na memória afetiva da adolescência? Só vale os becos de beijos. Daqueles com gosto de pecado, de descoberta, com cheiro de escondido, de proibido. Ah! tempos bons de inocência a ser perdida, de sonhos encastelados que acreditávamos serem eternos.
O simples fato de ir com a amada pro beco já era motivo de excitação. O coração saltando pela boca, o corpo louco por uns breves momentos de amassos às escondidas. Um olho fechado, todo romântico, e outro de olho no movimento do beco, ou na falta dele, todo alerta.
É, sem sombra de dúvida a melhor fase de nossas vidas. Onde temos a absoluta certeza que nossos sentimentos serão imutáveis e infinitos e, por isso, vivemos cada segundo como se tivéssemos que sorver o mundo inteiro no agora.
Mas não é bem assim. Mudamos física e espiritualmente e, na maioria das vezes nossas escolhas juvenis são completamente modificadas na fase mais madura da vida. Mas não quer dizer que não serviram pra nada, que foram vãs. Ser adolescente é treinar pra ser adulto, é praticar os sentimentos que nos acompanharão pela vida.
Nossas ilusões, decepções e aventuras serão o alicerce de nossa personalidade futura, a semente dos nossos sentimentos. Como diz Toquinho, em homenagem ao poetinha “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu...”
Mas o tempo, com seu jeito apressado e ritmado passa, o gosto do primeiro beijo muitas vezes desbota com o tempo, mas os becos da vida continuam lá, imóveis, como diz Arnaldo, como se nos lembrassem a cada esquina que o mundo é estático, dinâmicos somos nós, com novos sonhos, com novos beijos, com novos becos imóveis na nossa memória, pavimentando a cidade de nossas vidas.