“Passei hoje pelo beco que eu dei o meu primeiro beijo na boca. Nem liguei, ele lá, imóvel, e eu passei. Só isso”. (José Arnaldo)
Quem não tem um beco na memória afetiva da
adolescência? Só vale os becos de beijos. Daqueles com gosto de pecado, de
descoberta, com cheiro de escondido, de proibido. Ah! tempos bons de inocência
a ser perdida, de sonhos encastelados que acreditávamos serem eternos.
O simples fato
de ir com a amada pro beco já era motivo de excitação. O coração saltando pela
boca, o corpo louco por uns breves momentos de amassos às escondidas. Um olho
fechado, todo romântico, e outro de olho no movimento do beco, ou na falta
dele, todo alerta.
É, sem sombra
de dúvida a melhor fase de nossas vidas. Onde temos a absoluta certeza que
nossos sentimentos serão imutáveis e infinitos e, por isso, vivemos cada
segundo como se tivéssemos que sorver o mundo inteiro no agora.
Mas não é bem
assim. Mudamos física e espiritualmente e, na maioria das vezes nossas escolhas
juvenis são completamente modificadas na fase mais madura da vida. Mas não quer
dizer que não serviram pra nada, que foram vãs. Ser adolescente é treinar pra
ser adulto, é praticar os sentimentos que nos acompanharão pela vida.
Nossas
ilusões, decepções e aventuras serão o alicerce de nossa personalidade futura,
a semente dos nossos sentimentos. Como diz Toquinho, em homenagem ao poetinha
“Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que
eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra
quem sofreu...”
Mas o tempo,
com seu jeito apressado e ritmado passa, o gosto do primeiro beijo muitas vezes
desbota com o tempo, mas os becos da vida continuam lá, imóveis, como diz
Arnaldo, como se nos lembrassem a cada esquina que o mundo é estático,
dinâmicos somos nós, com novos sonhos, com novos beijos, com novos becos
imóveis na nossa memória, pavimentando a cidade de nossas vidas.