terça-feira, 21 de outubro de 2014

Quero o meu Face de volta

Aguento mais não! Da primeira à última olhada no meu Facebook só aparecem dois assuntos. Aécio e Dilma e suas variáveis. 45 ou 13, PT ou PSDB, Lula ou FHC. E como se isso não bastasse a divisão do mundo entre os seguidores de um ou de outro. Cada um que pense, pregue, acredite e esbraveje que quem tá do outro lado é a reencarnação do capiroto fumando crack estragado ao meio dia em ponto debaixo do quadro da santa ceia. Sei não viu!
Tá ficando um saco. Procuro as postagens de viagens, de paisagens e nada. Dilma e Aécio. Quando penso que vou saber que a filha da irmã da ex-amiga de minha prima no maternal teve bebê.... PT e PSDB. Louco pra ver um vídeo daquele de sofrência com Pablo cantando “Você foi a culpada desse amor se acabar !!!!...” e me inspirar pra tomar uma... 45 e 13.
Dá não, minha senhora e meu senhor. Você não vai acreditar: sentindo falta de corrente de oração. Daquelas que se você não mandar para 13 amigos em 13 minutos vai ter 13 anos de azar, vai broxar 13 vezes e vai ficar pobre em 13 dias. Isso na versão PT porque na versão PSDB são 45 amigos, 45 minutos, 45 anos de azar, 45 broxadas e por aí vai 45. (resolvi botar esse último 45 pra que o povo não diga que tinha um 13 a mais – confesse que você acabou de contar!)
Receber aqueles vídeos de funk ostentação já é pedir demais. Gente bêbada dançando no youtube um sonho de consumo. Aquelas mensagens de auto-ajuda, onde o mundo é rosa e você pode ser a reencarnação de um misto de Madre Teresa de Calcultá com a princesa Diana, junto com Jonh Lenon, Buda e Ayrton Senna o verdadeiro paraíso.
Mas não. Só dá Aécio e Dilma. Respirar não é preciso, acabar com a raça um do outro é primordial. Não tô falando que o debate político não seja fundamental, que expor suas ideias e opiniões políticas não seja de grande importância para o crescimento da democracia, mas fazer isso 9.457 vezes por dia é exagero.

Graças a Deus que é só até domingo – tudo bem, sei que teremos mais no mínimo uns 10 dias de zoações como uma final de campeonato de futebol, mas passa. Tem que passar. Enquanto isso não chega: #peloamordedeus me mandem alguma postagem diferente. Qualquer coisa serve. Mesmo que seja um pedido para jogar Candy Crush ou Farm Ville. E eu pensando que esses joguinhos eram a pior praga do Face...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pra Tati

Muere lentamente
quien se transforma
en esclavo del hábito,
repitiendo todos los dias
los mismos trayectos.”
Isto é Pablo Neruda
Querida Tati,

Os paralamas do sucesso cantaram que “a vida não é filme”. Será? Pode até não ter roteiro nem set de filmagem, mas cada um de nós faz parte desta maravilhosa película chamada vida. E por não ter roteiro o nosso diretor celeste às vezes faz o acaso traçar novos rumos. Em O poderoso chefão, por exemplo, o gato que aparece na primeira cena de Marlon Brando não estava no roteiro, parece que foi encontrando por acaso pelo ator no galpão de filmagem, mas deu toda a magia a cena o tal bichano.
Pois é isso Tatiana, o filme da sua vida ganhará em breve um novo espaço de locação. Rasga o oceano e pousa em terras espanholas. Mas essa não é a última seção de cinema do seu filme. Ele está apenas começando a ser rodado. Assim como em o ano passado em Marienbad a sua atração pelo novo, pelo desconhecido está lhe levando a Madrid para lhe tornar uma cinéfila cada vez mais competente.
É hora de alegria então. É abrir as asas do desejo e voar de encontro aos seus sonhos. Fugir desta morte lenta imposta pela mesmice cotidiana que nos fala Neruda exige, assim como em Pulp Fiction e Bonequinha de luxo, difíceis escolhas, mas que mudam radicalmente o nosso roteiro. Às vezes temos que nos desfazer de tudo que temos para acalantar este sonho como fez Antonio Ricci em ladrões de bicicleta. Mas sonhar é o que importa, alçar vôo em direção ao realizar. Sair por aí cantando na chuva, sem medo de se molhar, ao sabor da melodia da felicidade.
Tati, lhe confessei um dia desses que quando meu filho mais velho se tornou adulto e sonhando poder eu escolher alguém para ele namorar, pensava vê-lo namorando com você. E lhe digo mais, você é a pessoas dos sonhos de qualquer homem com algum juízo. Não só pela grande beleza que você tem, mas principalmente e acima de tudo pela inteligência privilegiada que possui. A mocinha do roteiro dos sonhos de qualquer um.
E como não temos Amnésia, vamos lembrar um pouco a sua trajetória aqui no TRE. Vamos olhar para esse tempo com o olhar de Hiro em Dolls. Você entrou aqui em nove de março de 2006 recém saída da faculdade de Direito. A cabeça fervilhando de pensamentos como o taxista de Taxi driver. Foi para a seção de contratos licitações e compras e por lá ficou até 27 de abril de 2010. Qualquer um que conviveu ou que convive com você sabe que você é uma mulher bem a frente deste tempo, e por este motivo você sabe que faz parte do mundo dos incompreendidos, e com isso tanta boa idéia foi jogada fora pelo engessamento e o medo de evoluir e inovar desta instituição. Sei que às vezes você chegou a se sentir um Alex DeLarge de laranja mecânica, mas nunca se deixou abater. Seu sonho sempre insistia em sonhar.
Em 28 de abril de 2010, já estudante de comunicação você vai para a Assessoria de comunicação social e cerimonial e pra variar mais uma vez da show. Faz acontecer. O amor e a dedicação pela palavra escrita lembra a de Dora em Central do Brasil, o olhar curioso, aguçado e apaixonado pela fotografia lembra Anna de Closer: perto demais. Mais ASCOM impossível.
A partir de 18 de março de 2014 aceita mais um desafio e vem para o gabinete da presidência. E não é que a danadinha se dá bem também. O gabinete tá em polvorosa com a sua saída. E agora o que fazer sem a pequena grande Tati?
Mas a vida segue, os sonhos seguem. O cine vida tem sempre novas sessões e novos lançamentos para exibir.
O que fica como acalanto para esses dias sem Tati por aqui? Fica o exemplo da mulher apaixonada pela vida e cuja paixão pode mudar os que lhe rodeiam como Edie Doyle fez no Sindicato dos ladrões.
Essa não pode ser uma sessão de despedida. Tem que ser alegre como uma festa em família, uma celebração de mais uma vitória da nossa protagonista favorita.
Voa doce Tati em busca de novos encantos. Que essa viagem não seja tão louca como as de Bonnie e Clyde mas que seja cheia de descobertas que mudem a sua vida como o que aconteceu com Amelie depois de descobrir a caixa escondida em o fabuloso destino de Amelie Poulain.
Sabemos não ser fácil qualquer tipo de mudança, imagina uma de continente, mas fica aqui, por fim, as palavras de Francis Ford Coppola “Você tem que realmente ser corajoso sobre seus instintos e suas idéias. Caso contrário, você só vai desistir, e coisas que poderiam ter sido memoráveis serão perdidas.”

Coragem, boa sorte e boa viagem...

terça-feira, 25 de março de 2014

Pra Dani*


“Dane-se o emprego, o salário, o patrão
Dane-se o medo, a loucura, a razão
Dane-se a moda, se é brega ou “Armani”
Dane-se tudo que não tiver Dani.”


Ela tinha uma boneca. Tascou-lhe a tesoura nos cabelos da coitada que ficou com um moicano no meio e virou a punk careca de “Ié”. Anos se passaram e a menina vira mulher. Já não tosquia mais bonecas nem puxa mais a barba de vovô Inácio. É mulher feita, decida, firme, mas de uma doçura...
Dani é uma daquelas surpresas boas que o tempo e a maturidade lapidam. Sou suspeito, suspeitíssimo até. Além de tio fui elevado a condição de amigo. E como isso me orgulha. Como é bom saber que sou boa companhia pra uma menina que, como dizia Netinho, o da Bahia, carreguei no colo e cantei pra dormir.
Por falar em Netinho, ela foi protagonista de uma das cenas mais emocionantes que já vi em um show. Ele tava no auge da carreira, ela no da infância. Show no circo em Pirangi e trocentas moças e mulheres querendo subir no palco pra chegar perto do cara. Ele se aproxima da platéia para escolher a sortuda que iria subir e cantar junto a ele. Empurra daqui, grita dali, se esgoela , se descabela e ele escolhe ela que tava no cangote do pai. Netinho sentou, botou ela no colo e começou a cantar “por teu beijo” se a memória não me falha. Essa menina não parava de chorar, chega soluçava. Alisava o braço dele, olhava pro relógio “imenso” no seu pulso, mas acima de tudo, o que me marca até hoje, era o olhar de admiração. Aquele olhar abasbacado, de quem não tá acreditando que aquilo é real.
Esse olhar ela carrega até hoje e é sua marca, vitrine transparente para sua alma. Olhou, sacou. Não sei como uma pessoa consegue ser tão verdadeira com tanta candura. E não pense encontrar nela um anjinho submisso. Nada., É geniosa e decidida a danadinha. Defende com unhas e dentes o seu ponto de vista e não arreda um centímetro quando não convencida do contrário. Extremamente apaixonada pela vida, só sabe fazer, seja lá o que for, com paixão, com vontade, vestindo a camisa como diz o jargão, de preferencia se a camisa for a do ABC.
“Cada um com seus problemas” como ela diz, mas como advogada acha que resolverá o de todos. Se envolve na causa, compra a briga mesmo. É espevitada toda. Tá dando certo, tá se dando bem, mas morro de medo que ela se machuque. O direito não trata tão bem aqueles que por ele se apaixonam e acreditam ser ele sinônimo de justiça.
A vida e o seu corre-corre nos privou de um convívio mais próximo, mas depois de uma viagem recente que fizemos junto com a tropa familiar nos grudamos novamente. Fomos companheiros e cúmplices de nossas fossas longe dos amados. “O orelhão fica na saída do cais”, “tem cartão telefônico na outra esquina”, “olha que eu comprei pra ele”, “é a cara dela”, “falei com Karlinha”, “falei com ....”... Lembro da preocupação dela com a minha paixão. Será que é correspondida? Tá mais calma agora, conheceu e viu que joga no nosso time. O dos apaixonados, dos românticos, dos louco de e por amor.
Pois é, Dani. Hoje já não lhe carrego mais no colo, pois você anda com passos firmes nas trilhas deste mundo, mas lhe carrego aqui no meu coração com todo cuidado, carinho e zelo de um tio querido e com um orgulho e uma admiração parecidas com o que um dia eu vi estampadas em seus olhos de menina no colo do ídolo.
Quanto a cantar pra você dormir nem sei se me arrisco mais. Sei que outros sons embalam melhor o seu sono, mas se isso lhe faz dormir tranquila, saiba que a qualquer hora do dia ou da noite, na chuva, no sol, “no cheiro ou na catinga” como diz seu pai, você pode contar comigo, não apenas como tio, mas principalmente como um grande amigo.

Que Deus lhe abençoe.

* Não sou de repetir post. Este  tinha sido publicado no site da diginet. Mas a data e a sobrinha merecem um bis.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

“Podres poderes”*

“Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais”
(Caetano Veloso)


No começo todo mundo achou o máximo. O gigante finalmente acordou! Agora a coisa vai! Vai pra aonde cara pálida? O gigante que foi pras ruas virou um boneco desgovernado - antes fosse um fantoche, manipulado por alguém que se saberia quem era. O gigante transformou-se em uma massa disforme que de tanto atirar pra todos os lados atingiu a todos, inclusive a si próprio.
As discussões começam quando se tenta colocar pontos cardeais na tendência política dos movimentos. É de direita, é de esquerda, é extrema disso, reacionária daquilo. Mas aí começam as perguntas: Em uma manifestação, dos presentes, quantos sabem se posicionar politicamente?
Vamos começar pelos nossos partidos, quem está em cada fatia desse bolo? Eu particularmente tô perdidinho. Quem eu pensava que era de um lado se mostra do outro, quem eu achava que era do outro faz coisa do lado oposto.
A culpa é do governo. É o que todos dizem pra jogar a batata quente na mão de alguém. Mas que governo? Federal, estadual ou municipal? Não interessa. A culpa é do governo e vamos botar pra quebrar. Literalmente. A desculpa depois é dizer que foram manifestações isoladas de pessoas que se infiltraram no movimento para desestabilizar as manifestações.
O que não era só pelos vinte centavos tá virando, não é só pelo patrimônio depredado, não é só pelo estabelecimento comercial particular saqueado, não é só pela vida de um trabalhador acabada... Virou casa de mãe joana, com “j” em minúsculo mesmo.
Em nome de uma tal democracia onde tudo pode, só não pode proibir, cada setor competente do estado que tire o seu da reta e quem estiver na alça de mira que se vire. Quando o estado de direito não faz direito o seu papel, o primeiro espertinho que aparece tira a venda de Têmis, chuta a sua balança e faz a vez de estado.
É assim na comunidade, onde o traficante que manda no pedaço, resolve os problemas dos moradores locais – um médico, uma cesta básica, um emprego – mas por outro lado faz as próprias leis, julga e executa; é assim no meio da floresta com os grileiros; em diversas profissões com os cartéis; e não seria diferente no meio da rua com os “black blocs”, com os mascarados, com os rolezeiros, com os “Anonymous”, com os justiceiros de plantão ou até com os manifestantes de causa verdadeira. Onde os poderes do estado estão podres, qualquer poder paralelo pode até parecer saudável, mas, por ser ilegítimo, já nasce putrefato.
Protesto, passeata, rolezinho, reivindicação, manifestação, tumultuo, baderna, quebradeira, linchamento, morte, tragédia. Como começa até pode se saber, aonde vai desembocar, Deus sabe
Um país onde os interesses eleitoreiros da esmagadora maioria dos partidos políticos estão infinitamente acima dos interesses da nação e da população, só pode dar nisso; um país onde a corrupção é praga, mas dependendo da ocasião ela é até justificada por alguns – que até se reúnem para pagar pela pena pecuniária alheia - não pode ser diferente; um país onde, na justiça, o pau que dá em Chico não toca em um dedo de Francisco, não pode caminhar em outra direção; um país onde reclamar da corrupção alheia é obrigação, mas furar fila, dar uma grana pro guarda aliviar, comprar produto pirata, falsificar carteira de estudante, receber troco a maior e não devolver é a coisa mais natural do mundo, não pode acabar bem.
Confesso que não sei qual a solução para esta zorra que virou nosso Brasil velho de guerra. Já quebraram muito, já badernaram demais, já atrapalharam a vida de muita gente e de muitas coisas; agora começou a morrer gente, e de graça. Gente de bem, trabalhador, gente da tão temida mídia. A coisa tá começando a feder. É bom que providências sejam tomadas logo. Urgente! Agora! E por quem de direito.Senão, depois de feder já sabe: finda dando em merda. E das grandes.


* Título da canção de Caetano Veloso que prefacia o texto