quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O resgate da tia

Tive que ir ao Rio às pressas. Uma tia minha, já de idade e adoentada, precisava de acompanhamento diário e não poderia mais ficar morando sozinha na capital fluminense. A tarefa dada era trazer a titia pra passar uma temporada em Natal, colocar a saúde dela em dia e depois pensar em um futuro seguro e tranquilo aqui ou lá no Rio de Janeiro mesmo.
Peguei o primeiro vôo disponível, o que no caso vinha a ser um na madrugada, chegando na cidade maravilhosa cedo da manhã. Durmo muito pouco quando viajo. Não apenas pela nítida desproporção entre o meu desproporcional e espaçoso corpo, a cadeira do avião e sua falta de espaço para a parte do corpo que não fica sentada nela, mas principalmente pelo medo terrível que tenho de pegar no sono e acontecer duas coisas:
Primeiro: Roncar. Existe uma lenda, contada principalmente por minha esposa, que ronco. Eu particularmente não acredito nisso, nunca presenciei tal fato, tirando uma, ou melhor duas, ou não mais que três vezes que lembro ter acordado com um som aparentado a um ronco que supostamente teria saído de mim. Acho que foi sonho.
Mas é fato que morro de medo de cair no sono e não deixar a aeronave inteira dormir com meu estrondoso ruído ressonador. Me vejo sendo acordado pela aeromoça pedindo pela paz de todos que eu pare de roncar. Imagino a cara ameaçadora dos meus vizinhos de cadeira insones. Não consigo relaxar e dormir tranquilamente, para a tranquilidade geral da nação.
A segunda coisa é o medo de que, para aninhar o sono, eu me aninhe com o passageiro da poltrona ao lado. Explico. Só durmo “de conchinha” com minha Karlinha, e me imagino acordando tentando encaixar a perna com a perna do careca ao lado, ou ainda, levando um tabefe da velhinha da cadeira do meio, depois que eu puxei o corpo dela para junto do meu, dei uma “bicoca” de boa noite e pedi pra ela virar pra eu poder encaixar o meu corpo na bundinha dela.
Por essas e outras melhor não dormir, até porque tô na poltrona da janela, o careca da do corredor ronca mais que um porco e a velhinha da cadeira ao lado da minha, em sono profundo, já tentou me puxar umas duas vezes pra eu me aninhar com ela. Melhor ficar alerta...
... Deus do céu! Peguei no sono! Acordo atordoado com o comandante mandando a tripulação se preparar para o pouso. O careca continua roncando, a velhinha acabou de acordar e me olhou com uma cara de cumplicidade que prefiro nem imaginar o porquê. Do lado de fora da janela o Rio se exibe lindo como sempre e passada a noite tenebrosa é hora de cumprir o que me incumbe.

Mas isso é papo para outras linhas...

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Os becos da vida

“Passei hoje pelo beco que eu dei o meu primeiro beijo na boca. Nem liguei, ele lá, imóvel, e eu passei. Só isso”. (José Arnaldo)
                   Quem não tem um beco na memória afetiva da adolescência? Só vale os becos de beijos. Daqueles com gosto de pecado, de descoberta, com cheiro de escondido, de proibido. Ah! tempos bons de inocência a ser perdida, de sonhos encastelados que acreditávamos serem eternos.
O simples fato de ir com a amada pro beco já era motivo de excitação. O coração saltando pela boca, o corpo louco por uns breves momentos de amassos às escondidas. Um olho fechado, todo romântico, e outro de olho no movimento do beco, ou na falta dele, todo alerta.
É, sem sombra de dúvida a melhor fase de nossas vidas. Onde temos a absoluta certeza que nossos sentimentos serão imutáveis e infinitos e, por isso, vivemos cada segundo como se tivéssemos que sorver o mundo inteiro no agora.
Mas não é bem assim. Mudamos física e espiritualmente e, na maioria das vezes nossas escolhas juvenis são completamente modificadas na fase mais madura da vida. Mas não quer dizer que não serviram pra nada, que foram vãs. Ser adolescente é treinar pra ser adulto, é praticar os sentimentos que nos acompanharão pela vida.
Nossas ilusões, decepções e aventuras serão o alicerce de nossa personalidade futura, a semente dos nossos sentimentos. Como diz Toquinho, em homenagem ao poetinha “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu...”
Mas o tempo, com seu jeito apressado e ritmado passa, o gosto do primeiro beijo muitas vezes desbota com o tempo, mas os becos da vida continuam lá, imóveis, como diz Arnaldo, como se nos lembrassem a cada esquina que o mundo é estático, dinâmicos somos nós, com novos sonhos, com novos beijos, com novos becos imóveis na nossa memória, pavimentando a cidade de nossas vidas. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Filosofia kitesurf

As nossas praias ganharam um colorido especial. É a nova onda, o esporte radical da moda: Kitesurf. Uma mistura de diversos esportes náuticos e aéreos. Em suma, uma coisa linda de se ver, uma vela colorida quase prima de um paraquedas, rasgando céu e mar em manobras radicais feitas em um tipo de filhote de prancha de surf.
Vou para a praia para ver mais um show dos kitesurfistas. Me acomodo em uma cadeira da barraca e me preparo para assistir o espetáculo. Mas apenas um velejador de vela verde limão faz acrobacias no mar. E vai, e vem e voa, e dá cambalhotas e...logo sai do mar. Recolhe seus apetrechos e vem em minha direção, pergunta se tem alguém na cadeira ao lado. Diante da minha negativa senta e depois de um longo suspiro de cansaço chama o garçom e pede uma cerveja.
Peço também a minha e fico matutando cá com os meus botões: como é que eles conseguem ir e vir se a direção do vento é uma só? Aproveito a oportunidade da chegada da cerveja para me apresentar e perguntar como é que a coisa funciona. Ele começa a me explicar sobre o kite (a pipa), a prancha, as linhas, a barra de controle, depois me fala sobre janela de vento, zona de pressão, perna, velejo orçado e mais um monte de coisas, mas eu findo entendendo apenas que é através dessas linhas, que controlam o kite, que ele consegue executar manobras que fazem com que o mesmo vento que leva na ida traga-o no caminho de volta . “Navegar é preciso” já cantava o poeta, não só no sentido de necessidade mas no sentido de precisão.
Papo vai, papo vem e mais cerveja também,  começo a filosofar e crio – olha que ousadia – a filosofia Kitesurf . Não importa a direção do vento, nós é que traçamos o nosso destino. O mesmo vento que nos leva para as profundezas do oceano, pode nos trazer a segurança da praia. Só depende da “manobra” que usamos. Por mais contrário que o vento possa parecer ele pode ser usado a nosso favor. Sobre o filho de um alcoólatra, por exemplo, pode-se ouvir o seguinte comentário: “vive bebendo, também, olha o exemplo do pai” ou “não toca em álcool, também, viu o exemplo do pai”. O vento contra é o mesmo, o destino seguido é que foi oposto.
Em suma esta é a tese da filosofia Kitesurf, devemos saber aproveitar todos os acontecimentos da vida para nos levar ao destino que escolhemos. Se for bom, vento a favor, ótimo. Nos acalenta, nos dá forças, nos mostra que estamos no rumo certo. Se for ruim, vento contra, ótimo também. Nos desafia, nos aprimora, nos alerta para mantermos o rumo certo.
Estou finalizando mentalmente a minha tese quando meu amigo se despede, pede a conta e fica esperando, olhando o mar. “ É, tá sem vento hoje, e acho que não vai voltar”. Pronto. Encontrei uma situação que coloca a tese abaixo. Falou-se em vento contra e vento a favor mas eu esqueci que tem horas que não tem vento. E ai? É, desanimei, parece que realmente só é possível filosofar em alemão.

Me deu um estalo e eu perguntei ao meu amigo que já tava saindo: “e quando não tem vento, o que é que se faz?” E ele sabiamente me respondeu: “Quando não tem vento, eu pego o meu equipamento, saio do mar, sento em uma cadeira, peço uma cerveja e deixo o tempo ruim passar. Tem dias de velejar, outros de ver o mar”.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Rótulo é pra lata


Acho que a culpa é de Andy Warhol e o seu trabalho na Cambell’s Soup Cans. Depois disso o rótulo passou a ter uma importância impressionante nas nossas escolhas. Escolhemos o que vamos consumir dentro da lata, pelo que começamos a comer com os olhos por fora dela, fazendo assim um conceito a respeito do que tem lá dentro, mesmo antes de provar o conteúdo: Pré conceito. Das sopas de tomates de Warhol à lata do achocolatado da garotada, passamos assim a rotular nosso consumo.

Mas quando levamos essa cultura “enlatada” para o terreno musical a desgraça aumenta. Pessoas sem nenhum conhecimento sobre música, ou com conhecimento específico em um determinado gênero, rotulam preconceituosamente alguns segmentos musicais, sem ter o menor embasamento técnico ou sem nem ao menos conhecer o trabalho musical do cidadão.

Tava assistindo um vídeo no youtube, acho que gravado em 78, onde Caetano Veloso chamava o repórter e crítico Geraldo Mairinque de burro. Isso tudo, dentre outras coisas, porque o cara tinha metido o pau em alguns versos de canções do disco “muito”, qualificando-os de ruins e atribuindo a autoria ao ainda cabeludo baiano.

Os versos eram na verdade das canções Boneca de piche de Ary Barroso e Olha pro céu, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. “Os versos não são maus e não são meus” falou Caetano, mostrando o despreparo de Mairinque para falar de música popular brasileira sem conhecimento suficiente para isso.

Mas voltando as latas, digo, aos rótulos, quem mais sofre com tudo isso é o tal do brega. Começa logo pelo Aurélio que diz ser “deselegante, cafona”. A chamada música brega virou designação de musica romântica, melosa, de dor de cotovelo, mas não existe uma precisão estética quanto ao que venha a ser o tão falado e menosprezado estilo.

Aonde tem rótulo, tem preconceito e aonde tem preconceito tem ignorância e falsas conclusões. Exemplo: Fernando Mendes – brega, Caetano Veloso – M.P.B. Fernando Mendes – música de menor qualidade, Caetano Veloso – Musica de qualidade intelectual excepcional. E a música “você não me ensinou a te esquecer” de Fernando Mendes? É Brega ou intelectual? Era bregão até que Caetano gravou. Gênio da MPB! Que música linda do caralho, dissemos.

“Doce, doce amor, onde tens andado, digas por favor” cantava o brega Jerry Adriani, enquanto o antenado e alternativo Raul Seixas dizia “É você se olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota, saber que é humano, ridículo, limitado, que só usa dez por cento de sua cabeça animal”. Epa, mas peraí! Quem é o autor de doce, doce amor? Ele mesmo, Raulzito.

Esse preconceito corre em sentido oposto também. Você não pode dizer que não gosta de determinado cantor ou compositor do time dos intelectuais da MPB. Tenho um amigo, que embora respeite e saiba da importância histórica de Tom Jobim na musica mundial, caiu na besteira de dizer que não gosta da música do cara. Saltou logo uma metida a antenada e de gosto indiscutível e sacramentou: “Como pode ousar não gostar de Tom Jobim, isso é o fim, ele é o maior”. Por azar dela, esse meu amigo pegou uma carona com ela no outro dia. Ao entrar no carro falou: Coloca aí um Cd de Tom Jobim pra eu poder escutar e mudar minha opinião. “Cd de Tom Jobim? Tenho não”. Mas em casa você deve ter uma coleção! – retrucou ele – “Na verdade não. Gosto muito, mas não tenho nada dele”. Pergunto: Gosta mesmo, ou diz que gosta só para parecer que tem gosto refinado? Em comunicação, uma teoria chamada efeito da terceira pessoa explica isso.

Isso sem falar na música internacional. Ouvimos e admiramos um pop/rock que quando traduzido deixa qualquer Amado Batista no chinelo. “Eu morri todos os dias esperando você. Amor, não tenha medo. Eu te amei por mil anos e te amarei por mais mil” canta Christina Perri na sua “a thousand years”; enquanto isso Rihanna em “diamonds” diz que “Eu logo soube que nos tornaríamos um só. Oh! Bem no começo, à primeira vista eu senti a energia dos raios do sol, vi a vida dentro dos seus olhos”.

Mas voltando ao brega, um dos únicos que tem coragem de se intitular cantor Brega é o rei: Reginaldo Rossi.Mas cá pra nós, que ele não me escute: O cara dá um show de M.P.B. da melhor qualidade. Uma aula musical que várias pessoas deveriam assistir para aprender um pouco mais sobre o assunto, antes de sair por aí colocando rótulos ou selos de qualidade em latas que não se tem idéia do conteúdo. Melhor não se meter e deixar isso para Andy Warhol. Pelo menos competência e conhecimento para isso ele tinha.




terça-feira, 6 de agosto de 2013

Hei, afro! na estrada


“Gentileza gera gentileza”. É quando leio estas palavras do profeta Marcio José Andrade da Silva, estampadas no concreto das pilastras do viaduto da avenida Brasil, que me sinto realmente no Rio de Janeiro. Retomo mais na frente essas palavras.
A banda Cidade Negra abriu a turnê Hei, Afro! no VIVORIO, parque do Flamengo (time de coração da banda), na sexta-feira 02 de agosto. Primeira depois do retorno de Toni Garrido aos vocais da banda em janeiro de 2011.
É o trio Bino Farias, Marcos Lazão e Toni Garrido fazendo o que mais gosta: botar o pé na estrada e divulgar um novo trabalho.
O CD, que tem 13 faixas, foi mixado na terra do reggae e conta com a produção do mestre Liminha em duas músicas. O restante leva a assinatura dos três Cavaleiros Cidadeanos. O álbum, uma gostosa mistura reggae/pop, é um chamado às nossas raízes, à África que carregamos no nosso sangue, no nosso dia-a-dia. “A nossa casa é nossa África”. As letras de cunho social estão presentes no trabalho ao lado de outras composições mais leves e românticas.
O encarte segue no mesmo padrão de qualidade das canções e é visualmente impressionante. As ilustrações são do arquiteto, multi artista plástico e designer Helio Pellegrino e a peça é concebida pelo grafiteiro e muralista Eduardo Kobra.
No show, além do baixo de Bino, da bateria de Lazão e da voz de Toni, a banda conta com os teclados de Alex Meirelles, com Sérgio Yasbek na guitarra, e com a metaleira de Fabiano Segalote e Vitor Tosta (trombones) e Silvério Pontes e Matheus Morais (trompetes). A banda inaugura ainda uma nova disposição dos músicos no palco, trazendo a batera de Lazão pra frente (lado direito), deixando assim, o trio como donos do pedaço.
O repertório apresenta as canções do novo trabalho, mas mescla os eternos hits do reggae nacional cantados pela banda nos trabalhos anteriores. O que impressiona é que as novas “diamantes” e “hei afro!” já estão na boca da galera e as fortes “ignoruis man” e “paiol de pólvora” botam pra pensar, e por que não, pra dançar também.
O “tempo” que os três se deram, serviu para devolver a banda aquele frescor e espontaneidade tão marcantes no auge da carreira da banda. São os erês de volta aos palcos, brincando, se divertindo e ocupando o lugar de destaque no reggae nacional que eles sempre mereceram estar.
Para garantir o sucesso da turnê a banda conta com a produção executiva de Renato Oliveira e Tatiana Horácio, com a coordenação de produção de Alexandre Santos, a assistência de produção de Eduardo Setúbal e a produção técnica de Anderson Silva.
Os roades Alex monteiro e Alexandre Soares cuidam do palco, Frederico Coelho é técnico de monitor, Paulo Morais, técnico de P.A e Mario Lobo, técnico de luz.
A bela iluminação fica por conta da Oficina de Luz, Zé Luiz Joels e Cia de Luz, enquanto que o figurino é de responsabilidade da estilista Regina Coelho. Tudo isso realizado pela Public Ação e com o apoio Dr. Veit Oral Care.
Lembrando do “gentileza gera gentileza” lá do começo, cheguei no rio na manha do dia 02 e à noite, é lógico, fui ver a largada da turnê do Hei afro! E o que uma coisa tem a ver com a outra? Resposta simples: Temos que ser gentis com tudo e com todos. A natureza entra nessa também.
Foi querendo ser gentil com o nosso planeta que a banda resolveu, junto com a ONG salve o planeta azul, fazer uma turnê sustentável. Ih! Lá vem aquele papo “ecochato” de não pode isso, cuidado com aquilo!... Não. As ações de sustentabilidade são de iniciativa da produção do espetáculo. Da roupa que a equipe usa (confeccionada em tecido feito de garrafa pet) ao biocombustível usado para locomoção, transporte e geradores, passando pela cenografia feita de material reciclado, a coleta seletiva e recolhimento inteligente de dejetos, além de uso de copos biodegradáveis, entre outras.
Assim, pura gentileza para o planeta. A partir de iniciativas simples como essa de idéia de levar o som ao redor do país com sustentabilidade, a banda vai reinventando a sua música, fazendo a sua história e quem sabe assim, mudando a do planeta para melhor.
A semente está plantada, basta que façamos a nossa parte. Juntos poderemos mudar o rumo do planeta azul. “Let’s get together and feel all right”, já dizia o gentil Bob.
A turnê segue para são Paulo dia 10 de agosto e depois vai correr o país inteiro. Hei, afro! se liga no som e nas idéias.

Maiores informações sobre a turnê e sobre as ações


quarta-feira, 26 de junho de 2013

À mestra com carinho

“A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer.
A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer.
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer.
Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer.”

“Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer.
Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pro que vai acontecer.”
(Arnaldo Antunes)

As palavras para definir o que quero dizer são muitas: pra frente, descolada, moderna, jovem, mente aberta, “o cara” como se diz hoje em dia, “prafrentex” como dizíamos a algumas longas folhinhas. Agora vamos tentar fechar os olhos e imaginar uma pessoa assim. Imaginamos todos, ou a maioria, uma figura com idade cronológica de poucas dezenas.
Aí é onde mora o grande erro nestas definições. Estes adjetivos não se estereotipam, não são atributos restritos aos de pouco anos de vida. Ao contrário, em diversos casos. Isso é próprio do espírito e não da carne. Vem da mente ativa, ávida, não do rostinho inerte sobre o juízo vazio.
Sim, essa é pra você minha querida professora Margarida. Passada a fase em que isso poderia soar como bajulação -sei que você jamais pensaria isso - venho aqui dizer da minha louca admiração por você. Não só como mestra em sala de aula, mas como exemplo de vida, de vivacidade.
Nunca fui lá muito bom com as regras, mas aprendi com você – tô aqui insistindo no você, em lugar do senhora, de cabido mesmo – a maior lição de todas as aprendidas na academia. “E preciso conhecer profundamente as regras para poder quebra-las”.Bingo!
Como vemos caretas fantasiados de descolados, vomitando uma rebeldia contra um regramento que desconhecem quase que por completo. Como é vazio. Despropositado, sem conteúdo.
Mas voltando a Margarida. Que mulher elegante. Uma elegância intelectual sem ser pedante, uma elegância no tratar sem ser pragmática, uma elegância no vestir sem ser modista, uma elegância no ensinar sem ser piegas.
Abstraindo todos as suas titulações acadêmicas,  que não são poucas, você merece a maior de todas: a de ser chamada de Professora. Não daquelas de quadro e giz, mas daquelas de suor e lágrima, professora de vida, de conhecimento não só acadêmico, mas humano, daquelas que se orgulham, em cada fim de aula, da mágica que é ter aprendido ao ensinar, professora de sonhos, semeadora de realizações.
“Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver!” canta em versos o poeta Jobim. E se assim fosse, que maravilha seria a nossa educação, que maravilha seria o futuro da nossa juventude, que maravilha seria viver neste país Margarido.
Agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de aprender com você, e quem sabe tenha Ele me dado a honra de deixar em você algum sinal da minha passagem pela sua vida acadêmica. E por fim que Ele lhe dê forças para continuar exalando essa juventude, essa modernidade, essa rebeldia abalizada, essa elegância de viver por onde você passa.
Um grande beijo no coração e outro na testa pra ver se por osmose ganho algum conhecimento.

“Tempo Rei! Oh! Tempo rei,
Transformai as velhas formas do viver.
Me ensinai, oh! Pai, o que eu ainda não sei.
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei!

(Gilbero Gil)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Ninfoléxico maníaca

Ela tinha duas grandes paixões na vida: O sexo e a língua portuguesa. Paixão é pouco, ela era tarada, maníaca pelas duas coisas. Não conseguia viver sem transar e sem gramática. Seu maior sonho de consumo em matéria de luxuria era fazer amor com Professor Pasquale dentro da biblioteca nacional, em cima de uma mesa. Ela apoiando a cabeça em um dicionário Aurélio e ele usando dois exemplares de sua própria gramática em baixo de cada pé para ficar na altura certa. Só de pensar nisso ela delirava de prazer.
Era professora de português, é lógico, e daquelas bem duronas. Colar com ela? nem pensar! E teste oral de conjugação de verbo e ditado era quase todo dia e de surpresa. Quem é bom mesmo, é na seca, na hora, sem subterfúgios. Um exemplo de dedicação. Quando não estava preparando aula estava pensando ou tentando fazer sexo. Para você ter uma ideia, se perguntassem para ela qual a sua rotina preferida ele diria: do trabalho pro motel, do motel pro trabalho.
O grande problema é arranjar um homem para dividir com ela a cama e seus mais devassos desejos. No começo, ela olha pro cara e parte para o ataque: É esse. Mas quando o cara fala.... fudeu! Ou melhor, não fudeu neste caso. Basta um pequeno deslize com a língua mãe que ela não é nem um pouco gentil.
___ A gata tem “pograma” pra hoje?
___ Vá fazer “pograma” com a senhora sua mãe, e nos seus programas não me inclua.
Chegava sempre reclamando com as amigas que não conseguia arranjar o homem ideal, que não se fazia mais homem como antigamente. Enquanto isso, cada uma que falasse mais dos dotes dos seus amados e amantes. O meu faz isso que é uma maravilha, menina! Já o meu tem uma habilidade naquilo outro de me deixa sem ar! Aí é que ela ficava louca, um calor subindo.
A bem da verdade, pouca coisa desses detalhes interessava, ela queria mesmo era sexo, com qualquer um, de qualquer maneira. Era começar e em dois segundos ela já tava subindo pelas paredes, se conjugasse um verbo irregular na hora h! Nossa senhora! Era mais de meia hora de gemidos e sussurros. Se fosse no pretérito mais que perfeito nem se fala.
Mas o problema era arranjar este cara. Na faculdade a maioria dos professores eram professoras e os representantes da ala masculina não representavam assim tão bem a classe. Quanto aos alunos, ela já tinha reprovado todos na cama. A bem da verdade nunca chegava na dita cuja de fato. Nas preliminares existia sempre um deslize léxico ou gramatical que mandava o clima pro espaço.
O que chegou mais perto foi um aluno do curso de direito, ele tava pegando-a de jeito, já quase partindo pros finalmente, quando o desgraçado inventa de pedir: Vem querida, me chama de seu "adevogado"! ___ O resto nem precisa dizer. O cara acabou de vestir a roupa na garagem, com ela já pedindo a conta no portão de saída do motel.
Teve um outro, quase concluinte de administração que tava nos amassos dentro do fusca dele, no banco de trás, beijo pra lá, beijo pra cá, ela inventa de perguntar: Gostas dos meus beijos? ___ Gosto sim, chega "viceia"! Vocês não têm ideia de como essa moça saiu deste carro pelo vidro do passageiro, que só para ilustrar, tava só pela metade.
A pérola foi um carinha que ela conheceu na balada. Esse ela não quis nem conversa, chamou o cara pra dançar e quando o cara começou a esboçar a tentativa de começar a primeira frase ela tascou-lhe um beijo de boca daqueles de tirar o fôlego.
Era só felicidade não desgrudou da boca do cara a noite toda, já tava subindo o telhado de tanto prazer. Agora vai! Inebriada de prazer ela descuidou, ele olhou bem no fundo dos olhos já revirando dela e disse: Agora "nós vai" pro motel? Ela botou uma cara de decepção tão grande, já ia saindo quando ele errematou: Qual o "plobrema"?
Já estava desiludida, não acreditava mais que apareceria o seu príncipe encantado, o seu Pascoale, o seu Aurélio. Até que um dia, em plena biblioteca ela deixa um livro cair, não percebe, só sente aquela mão tocando-lhe o ombro e dizendo: Senhora, deixou, por descuido que caísse de suas mão este belo exemplar da literatura mundial. Era Camões, o livro, não o cara. Ele se chamava Aureliano Pasqual.
Foram horas de conversa na biblioteca. Ela encantada, excitada, apimentada, tarada e mais um bocado de “adas” desses. Ele se despediu perguntando se poderia lhe dar um ósculo e um amplexo. Gamou de vez. Não só pelo beijo e pelo abraço, mas amplexo para ela era a perfeição da língua portuguesa. Uma palavra perfeita morfologicamente, lexicalmente e mais outro bocado de “mente”.
Marcaram um motel para aquela mesma noite. Não esperaria mais nem um dia. Ia tirar o atraso de anos de espera.
No motel tudo perfeito, o vinho, a música os livros que levaram, as poesias recitadas. Eles se tocaram, se beijaram, rodopiaram dançando alegremente. Ligaram a banheira e ele foi discretamente ao banheiro. Ela inocente acompanhou e só viu ele acabando de engolir alguma coisa.
Era viagra, contava ela desesperada às amigas na manhã seguinte. É a mesma coisa de tirar 10 na prova colando, é desonesto, eu não mereço. E batia com toda força o Camões na cabeça.


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Na rede


Definitivamente não estamos sós. Tudo o que fazemos ou sentimos, está na rede, sendo compartilhado aos gigahertz mundo afora. Do seu melhor amigo ao maior desconhecido, todos no mesmo mundo virtual onde as barreiras de tempo e distância nunca foram tão relativas. Einstein ficaria de queixo e língua caídos com essa relatividade internética.
Nada mais acontece sem que teclemos alguma coisa e ... pimba, a informação já tá na rede, tá no mundo, é do mundo. Da cagada que o recém-nascido deu ao prato do jantar no restaurante chique; da pose no show do grande ídolo ao flagrante da vítima do acidente de moto; do furo importante a maior bobagem, tudo vira alimento pra net.
As redes sociais nem se fala. Ninguém vive mais sem elas. E têm vida curta as danadas. O que anteontem era MSN, ontem virou Orkut, hoje é Facebook, instagram, twitter, whatsApp e amanhã tudo será jurássico e fora de moda, novas redes surgirão. Se você ainda não faz parte de nenhuma, o que eu acho improvável, pergunte qual a da vez e comece a se conectar com o novo mundo. Vantagem principal: nenhum dos seus amigos tem defeito, todos amam todo mundo, e a você. Todos são caridosos e estão interessados em salvar o planeta, incluindo as tautaras da Nova Zelândia quase em extinção.
É um mundo novo,feito de pessoas novas, perfeitas. Virtuais, mas perfeitas. Bom só precisar delas virtualmente, principalmente se for problema de dinheiro, na real, sem real.
Um dia desses aconteceu comigo o seguinte: Oi! Tudo bom? Eu sou sua amiga do face, como estão as coisas? Tudo seria normal se, antes de ser minha amiga do facebook ela não tivesse estudado comigo no final da década de setenta. A experiência virtual na velocidade dos zilhões apaga tudo.
Outro dia aconteceu um fato preocupante. Vou à casa de um amigo assistir um jogo na televisão. Karlinha que gosta de futebol, mas só quando o time dela tá jogando, falou que iria levar o notebook para ficar fuçando a internet. Eu lógico levei meu tablet, por precaução, quem sabe precisaria de alguma coisa. Chegando lá, Fábio e Ana, cada um com seu Ipad, nos recebeu.
Beijinhos de cumprimento, sentamos e.... Silêncio total. Cada um pegou o seu brinquedinho e foi navegar. Alguns comentários esparsos sobre a maravilha que estávamos vendo, até que meu amigo, espantado nos alertou: Minha gente, estamos aqui nós quatro, há dias que não nos encontrávamos e ao invés de conversar preferimos o mundo virtual. Pelo amor de Deus vamos desligar esses troços!
Você já viu alguém marcando um encontro agora? De tal hora eu entro. Nos encontramos na face mais tarde. Qualquer coisa mando um whatsApp pra você. E não adianta reclamar: Mas amor, eu estou ao seu lado da cama, pode falar pessoalmente comigo!
O mais impressionante ouvi na faculdade. Duas meninas falando sobre uma terceira que andava sumida.
___ Tem falado com Gilda?
___ Raramente, ela anda meio deprimida.
___ É mesmo? Faz tempo que não vejo ela no face, coitadinha
___ É menina, ta isolada do mundo. Não quer mais papo com ninguém.
___ Como você sabe? Falou com ela recentemente?
___ Que nada. Ando pastorando ela na internet. Entro no face nada, no instagram muito menos, no whatsApp nem pensar. Prefere se esconder. Encontrei por acaso ela no orkut. Com certeza estava sem querer falar com ninguém.
___ É amiga, tá ruim mesmo. Hoje em dia só vai pro orkut quem não quer papo com ninguém. Tô preocupada. Acho que é caso até de tentar falar pessoalmente com ela.
___ É mesmo, medida extrema, mas necessária.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Chapeuzinho Vermelho – A versão do pai


O tema não é meu, confesso. Foi coisa do meu professor de língua portuguesa. Mas vou usá-lo aqui fazendo algumas adaptações.
A ideia central desta história que vou contar é sobre a ideia central do famoso conto infantil de Chapeuzinho Vermelho, de autoria de Charles Perrault e com a posterior versão fabular de final feliz dos inspirados irmãos Grimm. Pense numa dupla pra gostar de “com fabular”.
Na versão inicial de Perrault, Chapeuzinho, uma menina bonita, é mandada pela mãe para ir entregar uns doces para a vovozinha que está doente. Antes de sair, ela alerta a criança para ter cuidado no percurso, não falar com estranhos e todas aquelas recomendações de mãe, além do que, se sabia da existência de um lobo mau por aquelas bandas. No caminho a menina encontra um lobo que, como ela não nota a sua maldade, passa-lhe o maior xaveco, descobre o endereço da velha, chega lá antes de Chapéu e inhack! Come a velha – no sentido literal do verbo.
Depois ele fica esperando a menina dentro da casa da finada vovó, tem toda aquela história de deita na cama, isso é grande, aquilo também, isso é pra isso, aquilo é pra aquilo, ai que “meda”! Inhack! Papa a menina de sobremesa e pronto, “c’est fini”. Sem caçador, sem abertura de barriga pra retirada de todo mundo lá de dentro e todo esse final cirúrgico e feliz que conhecemos. Isso já foi coisa dos irmãos alemães, que adoravam um final alegre, uma moral da história e assim por diante.
O mais interessante nisso tudo são as versões sobre o cerne deste conto. Além da quase unânime de que não se deve desobedecer a mãe porque sempre dá em merda - aquela velha história de praga de mãe – tem várias outras vertentes que falam de moral, sexualidade e perda da inocência.
Alguns sustentam que Chapeuzinho não seria tão “inho” assim, que já era uma quase adolescente, que deu muita trela pro lobo, que teria se insinuado, chegando alguns a dizer que aquela história de comer não deve se levar no sentido literal e por aí vai.
Eu particularmente só acho muito estranha essa história de doces. Pense bem: uma velhinha que está muito doente ao invés de receber remédios, frutas da época, comida saudável, vai receber guloseimas. Será que estavam querendo curar ou matar logo a coitada da senhora da terceira ou quarta idade?
Mas a que mais me chamou a atenção foi a versão contada, e só agora encontrada, pelo pai de chapeuzinho. Depois da mal contada história da comida e da retirada das duas inteiras de dentro da barriga do lobo - que por incrível que pareça sobreviveu ao procedimento cirúrgico sem nenhuma sequela – ele relata que a culpa de toda essa história foi da desnaturada da mãe da inocente criancinha. E explica. Veja o texto dele sobre o que aconteceu depois do narrado no conto:
“Logo que saí daquela cena fui direto pro conselho tutelar. Isso não vai ficar assim. Cheguei lá e contei tudo. É uma megera, uma irresponsável a mãe dessa menina. Por isso me separei dela. É uma pena que ela ficou com a guarda de minha filha. Ficou pra não cuidar. Ano passado ela foi reprovada por falta. Quase nunca ia pra escola. A mãe falava que ela vivia doente, mas soube que ela ficava em casa fazendo os afazeres domésticos enquanto a mãe saía pra vadiar. Como não consegui provar nada, nada pude fazer.”
“Veja só, um caminho que é esquisito pra mim, cheio de boca de fumo, de marginal, esquisito pra caralho, ela manda a pobre criança atravessar só pra levar uma ruma de doce praquela velha ranzinha. Isso tudo no horário da escola. Irresponsabilidade dupla. Além de expor a menina ao perigo, o que de fato aconteceu, ainda faz ela perder aula. Isso sem falar que era só pretexto pra ficar sozinha com os machos dela”
“Mas isso não vai ficar assim não! Já falei com meu novo advogado. Agora é tudo ou nada, ou melhor, é tudo. Ele já me mostrou o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código Civil, o Penal, a Constituição e um monte de decisões em casos parecidos. Não tem nem como perder. Vou ganhar de volta a guarda de minha pequena Chapeuzinho, processar a mãe dela por não cuidar de minha filha direito, vou botar esse tal Lobo na cadeia por sedução de menor e ainda deve sobrar alguma pra esse caçador, que essa chegada dele do nada ta muito estranha. Eu ainda vou descobrir a dele.”
“Eu nem queria falar nisso, mas vou ter que contar. Conheci a mãe dela na zona, num puteiro. Sabe como é, findei ficando com pena, voltando, me apegando e aí levei lá pra casa, pra morar comigo. Mas ela sempre foi desse jeito, saidinha, saliente. Eu saia de casa pra trabalhar e ela enchia a casa de gente, principalmente homem. Eu achava estranho, mas, sabe como é... Eu reclamava e ela jurava que aquilo era normal, que eram só amigos de longas datas, me dava um cheirinho, fazia um chamego e eu deixava pra lá.”
“Espere aí, acho que tô me lembrando de um detalhe, esse tal de Lobo era um dos frequentadores lá de casa. Acho até que tenho uma foto dessa turma toda lá em casa no aniversário de sete anos de Chapeuzinho. Fudeu geral. Cafetina, prostituta dos infernos. Querendo aliciar a própria filha. E com certeza aquela velha coroca alcovitava essas safadezas todas.”
“Pois é isso, seu conselheiro. Por isso tudo, vim aqui no conselho tutelar da floresta pra denunciar esse povo todo, principalmente a minha ex. Ela agora anda com um papo que é tudo culpa de Charles Perrault e dos irmãos Grimm, mas é tudo culpa dela. Safada. Covarde. Quenga. Tome logo as providências que a menina não volta mais pra casa da mãe nem a pau Juvenal!”
E afinal, no que deu essa versão? Que final, afinal? Não tenho a mínima ideia. A bem da verdade a única moral dessa minha história é que é melhor não ficar arranjando moral pras histórias de seu ninguém. Eles que são brancos – ou vermelhos no caso – que se entendam.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

BEM ACUNHADO


Quem já namorou com uma menina que tinha um irmão, ou é irmão de uma menina que arranjou um namorado já ouviu a piadinha infame.
___ E ai, você gosta de fulano? Quer bem acunhado?
Ou considera o cunhado ou toma conta da retaguarda.
Brincadeira com cunhado é assim. E fazia tempo que eu não era vítima desse trocadilho sem graça. Em 2010 encontrei, graças a Karla, um novo cunhado. Mas devido a excessiva adiposidade recíproca,a brincadeira de acunhar ficou fisicamente impossível entre eu e Cristiano.
Ai vem Soraya e me coloca de novo nessa roda – roda, acunhar... isso não vai dar certo. Wilton é o acunhado, ou o acunhador da vez, dependendo de quem de nós responderá a pergunta.
Outra coisa sobre cunhado é a máxima de que cunhado não é parente, embora alguns insistam que esse vínculo de parentesco afim seja eterno, ou seja, uma vez acunhado, digo, cunhado, sempre cunhado. Para esse problema a solução é simples: Se o cara for do bem, é cunhado querido, da família, quase sangue; se não for legal, é problema da irmã, ainda bem que não corre nessas veias sangue familiar.
E assim segue a saga do cunhado, coitado, que além de aguentar a irmã, ainda tem que aturar as brincadeirinhas como a do começo do texto e o próprio cunhado que mal conhece o novo membro da família e já quer ter a intimidade de parente de infância.
É tapinha nas costas, cutucão no ombro pra repetir pela quarta vez a mesma história sobre algum podre da irmã na infância e, para fechar a tarde no churrasco na praia, aquela velha declaração de amor.
___ Meu irmão! Esse cara é meu irmão. Gosto dele pra caralho. Ganhei o amigo de sangue que não tinha. Não, é sério! Amo esse cara – depois disso vem a parte pior que são os beijos na bochecha do coitado do cunhado que, se não acunhado, está acanhado ou acuado.
Wilton meu querido, não posso finalizar este texto sem a famosa pergunta: Você quer bem acunhado?
Seja bem vindo cunhado ao coração de minha irmã. Enquanto nele fizer morada, mora no meu. E que esta morada tenha no mínimo a eternidade Viniciana.
 Mas acho melhor deixar esse negócio de acunhação pra lá. Não temos mais idade nem jeito para isso.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


Comecei colaborando em alguns jornais de Natal, mas nunca consegui ter uma coluna.
Depois de um tempo, passei a escrever em um site de música (inforeggae). O site saiu do ar e fiquei sem coluna. Consegui espaço no site do músico Da Ghama (ex Cidade Negra), mas não demorou muito tempo e o site foi reformulado. Sem coluna novamente.
Finalmente consegui uma coluna fixa no site da Diginet durante alguns anos e... Advinha o que aconteceu? O site tirou a coluna do ar (a minha só não, a de todos os colunistas). Sem coluna mais uma vez.
Sabe de uma coisa? Cansei. Vou logo assumir que não tenho coluna. Que sou um invertebrado das letras.
Por isso estou aqui. Sem coluna, mas de corpo, alma e principalmente coração. Agora só deixo este espaço se vocês não lerem meus textos. Vão fazer isso não, né?
Sejam bem vindos, voltem sempre e, por via das dúvidas, saiam não.