quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Meus primeiros dias de hiper

Aconteceu assim, do nada. Tava no trabalho e um suor rápido acompanhado de um “quase apagar” mais rápido ainda. Sabe aquela sensação de quando você tá quase dormindo e dá aquele susto com um arrepio. Pronto parecido com aquilo. Só que bem ligeiro e despretensioso. Nunca como um sinal de coisa séria. Poderia ser uma ressaca, uma noite mal dormida, fome....ou até alguma coisa na pressão mesmo, seja pra cima ou pra baixo, mas coisa besta.
Fui no setor médico e, pressão verificada, me aparece um inédito 15 x 10. Digo inédito porque a minha pressão sempre foi mais chegada a números pequenos, sendo o 13 um limite quase nunca transposto. A médica chegaria em uma hora e como Allan estava na minha sala esperando para irmos almoçar, resolvi não esperar a médica e fazer uma escala no hospital. A fome dava pra esperar.
Ambiente de pronto socorro não é dos melhores e o paciente passa a sentir, até pela tensão do local, tudo que é tipo de milacria. Comecei a suar de novo e aquela sensação de “teto preto” querendo chegar. Pedi pra verificarem logo a minha pressão porque não estava me sentindo bem. Bingo! Já estava parecendo placar de segundo tempo de jogo de handebol: 17 x 11.
Agora vai! Eu já estava pensando que iria parar na UTI para monitoramento. A coisa deveria ser séria. Fiz o eletro e o médico receitou um tal de Captopril de 50. Achei que era um daqueles remédios sublinguais milagrosos da novelas, aqueles que o senhor de idade quer tomar depois que descobre as falcatruas do vilão, mas este derrama todo o conteúdo pela janela.
Nada de glamour hospitalar. Uma poltrona na emergência e o remédio pra tomar com água normalmente. Nem soro me deram. Só esperar a danada baixar. Pronto baixou. Achando se tratar de um neófito no assunto hipertensivo, o médico me mandou pra casa. Não sem antes dizer que eu fosse levar meu filho pra almoçar, que ele deveria estar morrendo de fome, e de recomendar uma visita ao consultório de algum cardiologista para averiguar essa presepada da pressão.
Almocei e fui na farmácia comprar aqueles medidores de pressão de pulso. Monitorar essa danada e não deixar ela subir. O aparelhinho é todo cheio de recomendações: Posição do braço, das pernas, do corpo, horário...
13, 14, 13 de novo, 15, 16... cada vez que eu media dava um valor diferente. Essa porra deve tá quebrada, perdi foi meu dinheiro! Não tava sentindo nada mesmo. Só uma leseirinha de leve. Deixar melhorar e vou pra Caruaru fazer uma surpresa a Karla que tá lá. 16, 17, 16 de novo, 18, 19... Ih! será que ta quebrado mesmo? Melhor ver no pulso de alguém supostamente com pressão normal. Chamei Heviny e... 11 x 7. Ver no outro braço: 11 x 7, ver sentada: 11 x 7, ver deitada: 11 x 7, ver em mim: 19 x 11. Ih! de novo. Melhor ir pro hospital pra provar pra esse povo que esse medidor de pressão é mais doido do que eu.
A enfermeira começa a inflar o tensiômetro, tentava medir e... tem que encher mais, fuc, fuc, fuc... mais, fuc, fuc... ele começa a despregar o velcro. Ela pediu minha ajuda para segurar o aparelho e, por fim, o veredicto: É, sua pressão tá alta mesmo. 21 x 12. Pronto, tá virando placar de basquete. Agora com certeza vem a parte da UTI, do remédio em baixo da língua, do soro, maquininha fazendo, bip, bip.... Nada.
Uma cadeira, um outro remédio pra tomar com água, mas desta vez pelo menos saiu a sentença final: Você é hipertenso e vai tomar esse remédio pro resto da sua vida.
Agora lascou tudo. Pressão alta. É o começo do fim, ou pelo menos é hora de sacar que não sou mais um garotinho e que a tal da regra é clara, como diz Arnaldo, e tem que ser cumprida. Regrar tudo daqui pra frente. Do sal ao sol, da cerveja ao pão francês, do açúcar ao desafeto.
O danado com doença nova, ou recém descoberta, é que tudo que você sente é culpa dela. Um calor: é a pressão (não importa se as janelas estejam fechadas e seja meio dia com o sol quente); Dói o joelho: é a pressão; Tá com sono: pressão; O dedo mindinho tá dormente: pressão; Gases, dor nas juntas, espirro, tosse, vontade de ir no banheiro: tudo culpa da pressão. É muita pressão. Não penso em outra coisa. Assim não tem pressão que aguente!
Mas já tô medicado. Tomando o remédio na hora certinha e a pressão tá controlada. Amanhã tem médico, já fiz tudo que é exame e vou mostrar a ele. Com certeza vem por aí uma série de recomendações e e devo começar uma nova vida.
Tenho que ter a consciência de que tudo isso é fruto de uma vida desregrada que vivi até hoje. Que tenho que baixar a bola e diminuir, ou acabar com as extravagâncias. O problema é provar pra mim mesmo que alface é melhor que bacon, que aveia é melhor que picanha, que suco detox é melhor que cerveja e que esse belo exemplar de barriga que construí ao longo de tantos anos, a custo de tanto investimento (bebida e comida, muita e boa, custa dinheiro) tem que se acabar, ou pelo menos que reduzir. Mas antes ela do que eu.

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