quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Com o pau na mão

Não, eu não vou escrever algo gozando do pau dos outros, eu também tenho um. Mas afinal, quem não tem? Nos dias de hoje, mais importante do que ter uma máquina fotográfica, um celular, ou qualquer outra geringonça que bata um foto é ter um “pau de selfie”. Não basta ser selfie, tem que ser tirada com o tal pauzinho, cuja principal função é encompridar os braços do retratista, ou melhor, do auto-retratista, para que ele não apareça meio disforme, com um ombrão e um corpo pequeno.
Virou moda esse negócio de selfie. Antigamente a gente ficava pensando: vou pedir pra quem tirar essa foto da gente? Não, aquele não, meio suspeito; melhor aquela menina... Geralmente conseguíamos alguém, e o mais importante, de vez em quando fazíamos amigos, ou pelo menos colegas momentâneos. Depois, você tirava uma foto da pessoa na máquina dela, daí surgia a sugestão de um passeio para fazer, descobria-se que tinham reservado o mesmo espetáculo para a noite... e por aí ia. Ou não, às vezes a pessoa batia a foto, você agradecia e ela seguia seu rumo.
Mais uma interação humana que acabou. Nem o garçom é mais chamado para bater foto. O pau resolve. Se existisse a profissão de tirador esporádico de foto alheia, pense numa ruma de desempregado.
É tanto pau de selfie no mundo que até a ANAC entrou na história do pau. Pode embarcar com o pau na mão? Ei, fulano entrou com o pau dele, porque eu não posso entrar com o meu? O meu até menor é! O pau dele é melhor do que o meu só porque meu é da 25 de março e o dele do free shop de Miame? Mas agora tá tudo tranquilo. Liberou geral, todo mundo pode embarcar com o pau na mão e de preferência tirar umas 35 selfies antes de sentar na poltrona. Dá tempo de postar no face ou no instagram: #opauentroueaaeromoçadeixou #jaquetadentrodeixa.
O que eu acho mais interessante é que o pau, que era pra ficar escondido, para disfarçar, pra a gente achar que a foto foi tirada por um terceiro ou por um ET qualquer, pra ficar todo mundo retinho e bem postado na foto, virou personagem principal. Todo mundo posicionado e o danado do pau todo desfocado no meio da foto, estragando tudo. Vá entender! É a involução da fotografia.
Por falar em pau de selfie, o meu quebrou. Minha esposa vivia brigando comigo: Você empresta seu pau pra todo mundo. Todo mundo pega, estica, bota e vai bater por aí com ele. Vão findar quebrando. Não digo nada. Tome cuidado com seu pau. Scataploft! Quebrou! E advinha quem tava mexendo no meu pau? Ela mesma. Se fosse alguém que não tivesse costume, que se espantasse com o tamanho – ou com a falta dele – com o manejo, tudo bem, mas logo ela que conhecia ele tão bem. Mas fazer o que?
O jeito é, antes de comprar um pau novo, tirar selfie com o pau alheio. Prometo que bato com carinho.

P.S.: Ah, outra coisa que me intriga: se hoje em dia a maioria das fotos tiradas de celular são selfies, porque danado é que a resolução da câmara frontal é bem menor do que a outra? Dava pra pelo menos ser igual? #ficaadica.












Pioneiro: o britânico Arnold Hogg utiliza um bastão para se fotografar com a sua mulher, Helen, em 1926 - Alan Cleaver / ReproduçãoImagem do site http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/fotografia-de-1926-mostra-uso-pioneiro-de-pau-de-selfie-14908747#ixzz3QsJRp1NG