Não, eu não vou escrever algo gozando do pau dos outros,
eu também tenho um. Mas afinal, quem não tem? Nos dias de hoje, mais importante
do que ter uma máquina fotográfica, um celular, ou qualquer outra geringonça
que bata um foto é ter um “pau de selfie”. Não basta ser selfie, tem que ser
tirada com o tal pauzinho, cuja principal função é encompridar os braços do
retratista, ou melhor, do auto-retratista, para que ele não apareça meio
disforme, com um ombrão e um corpo pequeno.
Virou moda esse negócio de
selfie. Antigamente a gente ficava pensando: vou pedir pra quem tirar essa foto
da gente? Não, aquele não, meio suspeito; melhor aquela menina... Geralmente
conseguíamos alguém, e o mais importante, de vez em quando fazíamos amigos, ou
pelo menos colegas momentâneos. Depois, você tirava uma foto da pessoa na
máquina dela, daí surgia a sugestão de um passeio para fazer, descobria-se que
tinham reservado o mesmo espetáculo para a noite... e por aí ia. Ou não, às
vezes a pessoa batia a foto, você agradecia e ela seguia seu rumo.
Mais uma interação humana que
acabou. Nem o garçom é mais chamado para bater foto. O pau resolve. Se
existisse a profissão de tirador esporádico de foto alheia, pense numa ruma de
desempregado.
É tanto pau de selfie no mundo
que até a ANAC entrou na história do pau. Pode embarcar com o pau na mão? Ei,
fulano entrou com o pau dele, porque eu não posso entrar com o meu? O meu até
menor é! O pau dele é melhor do que o meu só porque meu é da 25 de março e o
dele do free shop de Miame? Mas agora tá tudo tranquilo. Liberou geral, todo
mundo pode embarcar com o pau na mão e de preferência tirar umas 35 selfies
antes de sentar na poltrona. Dá tempo de postar no face ou no instagram:
#opauentroueaaeromoçadeixou #jaquetadentrodeixa.
O que eu acho mais interessante é
que o pau, que era pra ficar escondido, para disfarçar, pra a gente achar que a
foto foi tirada por um terceiro ou por um ET qualquer, pra ficar todo mundo
retinho e bem postado na foto, virou personagem principal. Todo mundo
posicionado e o danado do pau todo desfocado no meio da foto, estragando tudo.
Vá entender! É a involução da fotografia.
Por falar em pau de selfie, o meu
quebrou. Minha esposa vivia brigando comigo: Você empresta seu pau pra todo
mundo. Todo mundo pega, estica, bota e vai bater por aí com ele. Vão findar
quebrando. Não digo nada. Tome cuidado com seu pau. Scataploft! Quebrou! E
advinha quem tava mexendo no meu pau? Ela mesma. Se fosse alguém que não
tivesse costume, que se espantasse com o tamanho – ou com a falta dele – com o
manejo, tudo bem, mas logo ela que conhecia ele tão bem. Mas fazer o que?
O jeito é, antes de comprar um
pau novo, tirar selfie com o pau alheio. Prometo que bato com carinho.
P.S.: Ah, outra coisa que me intriga: se hoje em dia a
maioria das fotos tiradas de celular são selfies, porque danado é que a
resolução da câmara frontal é bem menor do que a outra? Dava pra pelo menos ser
igual? #ficaadica.
Pioneiro: o britânico Arnold Hogg utiliza um bastão para se fotografar com a sua mulher, Helen, em 1926 - Alan Cleaver / ReproduçãoImagem do site http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/fotografia-de-1926-mostra-uso-pioneiro-de-pau-de-selfie-14908747#ixzz3QsJRp1NG